terça-feira, 5 de março de 2013

Colecionador de história


A aproximadamente 5 quilômetros do centro da cidade, o engenheiro mecânico Murilo Leonardi, 73 anos, guarda verdadeiras relíquias. Sua coleção reúne 100 aviões, cerca de 15 veículos antigos e umas 300 motocicletas. Detalhe: cada uma das peças remonta a uma parte da história mundial dos últimos dois séculos, com raridades como um BMW de 1956; uma motocicleta de cinco cilindros, com motor dentro da roda, que foi um modelo alemão usado como arma secreta durante a 2ª Guerra Mundial; além de aviões antigos de acrobacias. 
Leonardi é engenheiro mecânico e tem especialização em engenharia aeronáutica. Foi professor da USP, engenheiro do Departamento de Estradas e Rodagem (DER) e trabalhou no Centro Técnico da Aeronáutica (CTA). Ele conta que desde criança era apaixonado por mecânica e tinha uma atração louca por motocicletas, tanto que sua primeira, um modelo japonês de 1940, conquistou aos 10 anos. Passou a colecionar motos, depois de formado. Antes, no período da faculdade, tempo em que também dava aulas em Pirassununga e São Carlos, viajava com uma moto de 1949, refrigerada a água, com transmissão por eixo cardano e partida na mão. Ela está guardada no barracão como tantas outras.
Sua grande aquisição naquela época foi uma Ariel 500 cilindradas, com a qual pôde viajar pela região. Com o tempo, elas foram se amontoando e hoje estão em três barracões. Murilo diz que todas funcionam, apesar de parecerem abandonadas, basta apenas reparos ‘superficiais’. “Vai ter que limpar, abrir o carburador, lixar o platinado, aquelas operações típicas”, detalha o colecionador, que já viajou para diversos estados brasileiros em busca das possantes, principalmente para a região Norte.
As que ele mais se utiliza, porém, estão em sua casa, como a Zundapp de 1951, moto alemã que usa para andar pela cidade. Quando resolve viajar, vai com a Traianf Especial de 950 cilindradas, ano 2001. “Eu nunca tive a intenção de fazer nada com minha coleção. Tenho porque gosto. Ultimamente, me fizeram algumas propostas, inclusive um pessoal da cidade quer fazer um museu e levar estas motos para lá. São coisas que estou pensando ainda”, diz. 

GUINADA PARA O ALTO – A paixão pelas motocicletas o levou ao encontro a algo ainda mais veloz. Leonardi também gostava de viajar para outras cidades para ver shows de acrobacia de aviões. Acabou tirando o brevê em 1966 e passou a voar com aeromodelos de aeroclubes. No entanto, segundo ele mesmo relata, em 1971, perdeu o gosto por tudo, quando, depois de um ano apenas de casado, se separou da esposa. Foi quando o piloto de acrobacias Alberto Bertelli, seu grande amigo, o aconselhou a comprar um avião, um Ryan, modelo STAS. “Ele é de 1936 e era usado em treinamentos da 2ª Guerra Mundial. Na China, eles adaptavam uma metralhadora com emenda nas asas. Mas é um caça leve”, explica o piloto e colecionador. Daí em diante, a vida passou a ser levada nas alturas.  Ao lado do amigo Bertelli, participou de muitos shows de acrobacia, sendo premiado algumas vezes. “Viajamos para Rio Claro, Campinas, Sorocaba, Americana; fui a várias cidades com esse avião. O Bertelli ia com um Biker, um biplano da mesma época. Eram acrobacias simples, tulo, lupin, parafuso, nada igual às acrobacias mais violentas de hoje”, compara.
Como não saia mais do aeroclube, passou a dar aulas de instrução de voo. Mas, em 1978, perdeu o gosto de voar após a morte do amigo Bertelli. Há cerca de 20 anos, resolveu montar seu próprio aeródromo, onde guarda seus modelos e de seus amigos que também adquiriram aeronaves de pequeno porte .
E aos sábados, todos se reúnem para levantar voo. Hoje, Leonardi pilota um Triaton, um monoplano projetado na Universidade de Uberlândia por Claudio Pinto de Barros, falecido em 2012. “É um avião muito bom, baseado em um avião italiano, com motor jabiru 120hp austríaco de seis cilindros. Comporta duas pessoas”, diz.

Histórias de aviador - Com tanto tempo envolvido com aviação, Murilo Leonardo acabou colecionando também algumas lendas. Uma delas envolve sua primeira aquisição; o Ryan. Segundo contam, o primeiro dono da aeronave, Anésio do Amaral, que era campeão mundial de acrobacias, foi encontrado morto ao lado do avião. Muitos acreditaram que ele tivesse cometido o suicídio. Passado um tempo, a viúva vendeu o avião e, anos depois, o novo dono foi encontrado morto da mesma forma. Então, a polícia descobriu que assim como o avião, o segundo dono também havia assumido a amante do anterior. Ambos tiveram filhos com esta mulher, que diziam ser belíssima. “Ela confessou que eles prometeram que cuidariam dela e das crianças; como não cumpriram, ela acabou matando os dois.”

Publicado no dia 05 de março de 2013 pela edição de nº 62 da Revista Kappa de Araraquara
Fotos: Lucas Tannuri

Produção independente


Nada como poder viver da própria arte. Algo difícil, mas possível. É o caso de Luciano Salles, conhecido como Pirica, 38, ilustrador de Araraquara, que conta com trabalhos, inclusive que rodam o mundo por meio de projetos internacionais. 
Atualmente, ele trabalha em seu segundo HQ (história em quadrinhos) e diz que não tem editora desde o primeiro, lançado em 2012, porque prefere fazer tudo à sua maneira. “Claro que vou ter que custear a impressão, mas esse investimento consigo recuperar com as vendas”, diz nosso personagem.
Ele explica que tem a ideia, produz o roteiro, revisa e então começa a desenhar quadro a quadro. Essa próxima história é ambientada no ano de 2.177 e tem como ponto central a individualização das pessoas e, como consequência, o fim do acaso, tendo a tecnologia como principal motivo desse distanciamento humano. “Houve um ajeitamento das placas tectônicas e a Euro/Ásia sumiu, afundou. Então, houve um realojamento de toda a Europa, de toda a Ásia para o resto dos países. E isso mudou todo o jeito de ser do planeta. Por exemplo, no nosso caso, a França veio alocada para o Brasil. É um ajustamento geopolítico”, relata, adiantando o enredo.
Mas como toda boa história tem um porém, Juliette Manon, a heroína de 15 anos, irá salvar o planeta corrompido pelo descaso humano, gerando o quarto vivente. E este é nome da nova história em quadrinhos, ‘O Quarto Vivente’, que deve ter 35 páginas.
Luciano diz que pretende imprimi-lo até junho, mas visa na verdade lançá-lo em novembro no 3º Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) de Belo Horizonte (MG). Porém, não descarta o lançamento do trabalho em Araraquara e região, contando com o apoio do SESC, um velho parceiro que sempre faz exposição de seus trabalhos. 
O que mais conta a seu favor, segundo o próprio ilustrador, é que o público de HQ é fiel e tem muitos contatos via internet, por isso a venda de seus trabalhos acontece quase que toda de maneira online, por meio do http://dimensaolimbo.com

COMO TUDO COMEÇOU – A intimidade com papel e lápis começou quase que junto com o aprender a falar e andar para Salles. Desde jovem faz ilustrações, fazendo trabalhos diversos para editoras de renome, como a Abril e a Companhia das Letras. Seu primeiro HQ foi lançado em junho do ano passado, com o nome de Luzcia, a dona do boteco. Ele explica: “É uma senhora que tem uma artrite generalizada muito forte e é dona de um boteco. Para bancar os remédios caros, usa de meios não muito convencionais”.  Luciano fala que fez a história bem rápido, com apenas 12 paginas, para divulgar o seu trabalho. Imprimiu 100 números e vendeu todos. Por isso, vai aproveitar a impressão do segundo trabalho e reeditar A dona do boteco. Tudo vai para a FIQ e estará no site, basta acompanhar e boa diversão. 

Publicado em 05 de março de 2013 na edição de nº 62 da Revista Kappa de Araraquara
Foto: Lucas Tannuri

Os filhos da lua


O albinismo é um distúrbio congênito caracterizado pela ausência completa ou parcial de pigmento na pele, cabelos e olhos, causada pela ausência ou defeito de uma enzima responsável pela produção de melanina que protege nosso corpo dos raios solares. Por isso, os albinos têm a pele sensível, alguns de aparência rosada. Eles também podem sofrer de transtornos visuais como fotofobia, movimento involuntário dos olhos ou estrabismo e, em casos mais severos, cegueira. Apesar do risco dessas complicações, quando se segue a orientação dos médicos, é possível ter uma vida normal. 
Chamados de filhos da lua, os albinos se sentem mais à vontade em ambientes abertos no período noturno. Porém, segundo relatos de Alex Hilário, 20 anos, e André Luís da Silva, 37, o sol não os impede de desempenhar suas atividades, sejam profissionais ou de lazer. “Usando protetor solar, posso ir à praia ou andar pelo sol tranquilamente. Uso protetor solar fator 30 ou 50. Minha pele machuca de fazer bolhas somente se eu ficar mais de quatro horas exposto ao sol quente, fora isso, é tranquilo”, confirma André, também conhecido como Placa. Ele explica: o apelido veio de um amigo pernambucano que, há duas décadas, quando o viu pela primeira vez, quis fazer um trocadilho com o nome do conjunto Placa Luminosa, da década de 1970. Isso também se explica: André, ou Placa, além de músico de uma banda gospel, também é professor de música e toca vários instrumentos. Filho de pai negro e mãe branca, tem descendência italiana. Um primo distante, por parte de pai, também era albino.
Alex é casado e confessa que para ele e a esposa não será problema nenhum se tiveram um bebê albino também. “Isso não me assusta. Hoje, não sinto tanto aquela coisa das pessoas ficarem me olhando. Antigamente era diferente. Quando era criança, as pessoas falavam mais”, relata.

NATURALIDADE - Da mesma opinião compartilha Alex. Ele diz que algumas vezes se incomoda com os olhares diferentes, mas nunca se nega a responder quando perguntam, por curiosidade, sobre o albinismo. Ele mesmo pesquisou muito sobre o distúrbio.
Alex vem de uma família negra e é o terceiro de quatro irmãos, hoje órfãos com o falecimento recente da mãe. Ele é o único albino e todos moram com a avó. “Quando nasci, minha mãe estranhou, chegou a falar para o médico que não era filho dela, mas minha avó assistiu ao nascimento e confirmou. Os dermatologistas disseram que tenho 25% de chances de ter filhos albinos e isso não é problema. Seria até engraçado, porque eles fariam as mesmas perguntas que um dia eu fiz. Também nunca houve diferença entre eu e meus irmãos, porque minha mãe sempre nos tratou de forma unitária”, admite. 
Bem resolvido com a aparência, Alex diz ainda que precisa ser mais cuidadoso com a exposição ao sol, pois nunca se lembra de passar o protetor solar e o resultado é sempre ter que remediar com hidratante. “Chega a machucar o couro cabeludo”, confessa, prometendo se cuidar mais. 

Prevenção e cuidados são essenciais - O albinismo é considerado raro, sendo quase impossível prever a sua ocorrência, que pode aumentar e muito quando há casos na família. Por isso, de acordo com o dermatologista Sérgio Delort (CRM-SP 58898), os albinos devem seguir uma série de cuidados quando forem se expôr ao sol, pois a pele não bronzeia como as demais, pelo contrário, ela sofre queimaduras sérias. “Principalmente os cânceres de pele são muito mais incidentes nessa população. É preciso ter compreensão da prevenção; aplicar protetor social e cobrir a pele com roupas, usar óculos escuros com proteção contra raios ultravioletas e evitar os horários de sol mais forte. E é muito importante a visita regular ao médico na procura de algum tumor que seja precoce. Estes pacientes podem ter um tumor numa faixa etária muito menor do que habitualmente diagnosticamos”, explica Delort, acrescenta que existem graus de albinismo. Existe, por exemplo, pessoas que desenvolvem o albinismo ocular, sendo uma versão menos severa do distúrbio, afetando somente os olhos. Nestes casos, a cor da íris pode ser azul, verde ou castanho-claro e a visão tende a ficar comprometida, pela falta de melanina.
O especialista deixa claro que há como fazer aconselhamento genético para prever se filhos de albinos também o serão, porém, não há muitas formas de se evitar. “Toda doença genética tem o aconselhamento genético. Você tem a proporção de filhos que podem ter a doença ou não, mas não tem como selecionar”, diz.

Publicado no dia 05 de março de 2013 pela edição de nº 62 da Revista Kappa de Araraquara
Fotos: Lucas Tannuri


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

AAEE luta pela socialização de seus alunos


Idealizada pelo professor Francisco Borba, a Associação de Atendimento Educacional Especializado (AAEE) começou a sair do papel em 1991 com a união de um grupo de pais. Foi a partir da doação de um terreno no Jardim Aclimação, por parte da Prefeitura, que a escola foi fundada 8 anos depois e hoje é uma entidade filantrópica beneficente. Começou com 9 alunos, dentre eles Ana Luisa Borba de 38 anos, autista e filha do professor Borba. A entidade atende hoje 87 alunos das mais variadas idades, sendo que o mais novo tem 6 e o mais velho, 57 anos. São pessoas de Araraquara, Santa Lucia, Américo Brasiliense, Boa Esperança e Bueno de Andrada. E na lista de espera há atualmente 30 candidatos. 
A Associação atende, especificamente, alunos com deficiências intelectuais e múltiplas, que são associações de síndromes intelectuais com deficiências físicas. As principais são down, paralisia cerebral, autismo, síndrome de West, síndrome de Edwards, síndrome de Sturge-Weber, síndrome de Kabuki. “Temos distúrbios de aprendizagem, de leitura e escrita, de matemática, de linguagem, e com a avaliação da psicóloga, conseguimos direcioná-los”, explica a diretora pedagógica Maria Alice Palaçon.
Ela conta que a maioria dos alunos chega por meio de encaminhamentos médico ou terapêutico, já diagnosticados e passam por um processo de triagem que envolve a psicóloga e a assistente social. Elas identificam as necessidades específicas do aluno e encaminham para as atividades. Também acontece de chegar casos raros, como o de João Pedro Jatobá Afonso, 7, que tem síndrome de Kabuki, uma anomalia congênita bastante rara. No caso de garoto, a psicóloga Edilaine Helena Scabello diz que ele apresenta déficit de linguagem, mas alto nível intelectual.
O eixo de atendimento é clínico e pedagógico e desenvolvido por uma equipe com pedagogos, assistente social, psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, professor de educação física adaptada, professor de informática, educação física adaptada e monitores. Os alunos são divididos em duas turmas de meio período e recebem uma refeição. “No treino da alimentação, nós estimulamos a respiração, a mastigação, deglutição, além da experimentação de diversos tipos de alimentos, texturas e sabores como doce e salgado, amargo, azedo. Depois voltam para treinos de higiene pessoal, ir ao banheiro, escovar dentes. Tudo voltado para a independência deles, embora muitos nunca poderão ser totalmente independentes, mas nós temos que estimula-los mesmo assim”, diz Maria Alice. 
E o ambiente ajuda muito, pois a entidade possui ampla área verde, com muitas árvores frutíferas e animais soltos, como pavões, gansos, galinhas, coelhos. “Nem todos conseguimos alfabetizar, mas trabalhamos as habilidades motoras, que são a coordenação, a lateralidade, a espacialidade, para que se localizem no ambiente. Esse universo é trabalhado de diversas formas, através de atividades no papel, brincadeiras, jogos, eles exploram muito a região externa da escola”, diz a diretora.
A equipe multidisciplinar também faz um trabalho de esclarecimento com a família dos alunos, passando o desenvolvimento dos mesmos e as necessidades de cada um.

Estrutura e recursos – A associação passa por uma fase de ampliação da sua área clínica, com a centralização dos atendimentos em espaço anexo. Os alunos também irão receber sala de multimeios para cinema, de terapia ocupacional, de fonoaudiologia, psicologia, biblioteca, brinquedoteca e, futuramente, pensa-se em uma quadra poliesportiva coberta. Mas para isso serão necessários mais recursos financeiros, que são angariados com eventos e doações de parceiros. A entidade também conta com a parceria da Secretaria Estadual de Educação e Prefeitura, por meio de doação de bolsas de estudo. Hoje, eles têm um custo/mês de R$ 50 mil com a folha de pagamentos.

Interação social
Um dos principais objetivos é a interação social e para isso os alunos realizam muitos passeios dentro da cidade. Ir ao supermercado é um deles e está ligado às atividades pedagógicas. “É também uma forma da sociedade olhar diferente para os deficientes. Quando a escola veio para o bairro, as pessoas tinham receio de se aproximar. Hoje eles sorriem, cumprimentam, brincam. A comunidade participa bastante das festas, principalmente da festa junina”, afirma Maria Alice, acrescentando que toda semana tem sempre parceiros do bairro para as atividades dos alunos, em grande parte, comerciantes. Essa interação aumenta no Dia das Crianças, quando muitas pessoas se oferecem para ajudar na festa.

Publicado em 19 de fevereiro de 2013 na edição nº 61 da Revista Kappa de Araraquara
Fotos: Mateus Rigola

Quem foi Francisco Vaz Filho


A avenida Francisco Vaz Filho, antigamente era chamada de Estrada Municipal e ligava Araraquara a Américo Brasiliense. Recebeu essa denominação em 1974, por meio de decreto municipal de autoria do então prefeito Clodoaldo Medina. Quatro décadas depois, a via se tornou um dos mais importantes pontos de comércio da Vila Xavier e da cidade, comportando desde loja de móveis, material de construção, salões de beleza, oficinas e até casa de aluguel de vestidos de noiva. Em 3,4 quilômetros de extensão, ela começa na Alameda Paulista e segue até o Parque Pinheirinho, passando por oito bairros: Vila Biagioni, Jardim Pinheiro, Vila Joinville, Jardim América, Jardim Europa, Jardim Gaspar, Jardim Floridiana e Vila Tito de Carvalho. 
Levantar quem foi Francisco Vaz Filho e seu legado não foi tarefa fácil, já que a maioria de seus descendentes já não vive em Araraquara. Eles estão em Santos, litoral paulista, onde o cafeicultor araraquarense montou uma Companhia de Exportação para escoar o café produzido nas propriedades do interior de São Paulo.
Mas, antes disso, Vaz Filho fez história em Araraquara. Ele chegou inclusive a ser prefeito, por um curto período de três meses. Aliás, foi o primeiro a assinar o livro de posse da Prefeitura, em 3 de julho de 1932. Assim como Vaz Filho, outros nomes de influência local também assumiram a Prefeitura por ordem do interventor Federal no Estado de São Paulo. Eram épocas difíceis da Revolução Constitucionalista de 1930, movimento armado liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que culminou com um golpe de Estado e depôs o Presidente da República Washington Luís, em 24 de outubro de 1930. O movimento impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e pôs fim à República Velha.
Da mesma forma, começou a diminuir o poder dos coronelistas sob a política local. Este período, entre 1929 e 1932, foi o marco do fim dos mandatos de Plínio de Carvalho, Bento de Abreu, Carlos Batista Magalhães, Américo Daniele e Dario de Carvalho, iniciado em 1908. Estes coronéis foram os idealizadores da ‘Cidade-Modelo’, os quais implantaram, em um período de 22 anos, as principais obras de embelezamento da cidade, mas também comandaram com mãos de ferro a política local. 
REVOLUÇÃO DE 1930 - Assim como conta o sociólogo e jornalista José Maria Viana de Souza, em seu livro A Ideologia da Cidade-Modelo, “o edifício da República Velha ruía sem oferecer resistência e a Revolução de 30 chegava para acertar contas com o passado oligárquico, abrindo caminho para uma reformulação radical da vida política nacional. Novos atores nomeados por decreto do interventor federal em São Paulo (governador) dirigiam a cidade por períodos muito curtos”.
Um texto escrito por Bento de Abreu para a edição de 10 de julho de 1932 do jornal O Imparcial, pede apoio ao novo prefeito, justificando que as mudanças ocorridas na administração eram reflexo do período que o país atravessava; isso se referindo à crise econômica de 1929 e Revolução de 1930. “Nesse período anormal, o prefeito não tem autonomia, como tinha no período constitucional. Daí a necessidade que todos os bons elementos locais o apoiem e prestigiem-no para que ele possa ter força de bem governar a cidade. Estou certo que este apoio não faltará, dadas as qualidades pessoais do novo prefeito”, assina Bento A. Sampaio Vidal.

Recordações da família - Francisco Vaz Filho era filho de Carlota Côrrea D’Almeida, da família Lourenço e Côrrea, filha do comendador Joaquim Lourenço Côrrea, que se mudou para Araraquara em 1840, e neta do sargento-mor José Joaquim Corrêa da Rocha, juiz das medições e que aqui adquiriu o Lageado quando veio assistir a medição de terras em 1812. Seu pai, Francisco Vaz D’Almeida, nasceu em Porto Feliz e veio para Araraquara para plantar café. Foi dono de muitas propriedades na cidade e região. Era membro da antiga nobreza portuguesa.
Do primeiro casamento, com Aida Côrrea, nasceu seu primogênito e companheiro nos negócios; Rubens Vaz. “A vovó morreu quando o papai tinha uns 18 meses. Ouvi dizer que foi tuberculose, mas eles não diziam estas coisas. Meu nome foi uma homenagem para ela”, diz Aida Maria Lepre Vaz, de 71 anos, neta de Vaz Filho. Ela ainda mora no antigo casarão comprado por seu pai no centro de Araraquara há quase um século, e conserva muitas lembranças e histórias.
Aida conta que da grande família sobrou em Araraquara ela e mais uma prima. Do avô, guarda poucas lembranças, como o seu jeito sério e seu olhar profundo. “Ele não tinha muita conversa, era muito sério, muito fechado. Sentava no cantinho e conversava mais com meu pai. Nós ficávamos mais no quintal, brincando. Quando ele ainda conseguia andar, descia até o banco na frente da casa e conversava com os conhecidos que passavam”, relembra.
Vaz Filho acabou ficando paralítico após um tombo que levou de um bonde em Santos. Primeiro andava com dificuldades, sempre com uma muleta a tiracolo, mas depois precisou usar cadeira de rodas. O cafeicultor também estava sempre de óculos escuros, pois era cego de um olho, devido a um tracoma, doença que afeta a conjuntiva e que leva a uma inflamação crônica. “Ele estava sempre de Ray Ban preto”, lembra Aida.
Por volta de 1923, Vaz Filho casou-se pela segunda vez, com Maria Teresa de Andrada Fortes, a dona Sinhá, com quem teve três filhos: Cyro, Maria Antonietta e Carlos Armando. “Ele era sério, mas gostava de contar muitas histórias, tinha um humor inteligente. Falava muito da passagem do cometa Halley, dizia que nós veríamos, mas ele não”, conta a neta Maria Luísa Albiero Vaz, de 53 anos, historiadora e que mora em São Paulo. 
Francisco Vaz Filho, depois de casado, morou até o fim da vida em um palacete na Rua Padre Duarte, esquina com a Rua Duque de Caxias, onde hoje funciona uma agência bancária. Por quase 15 anos morou em Santos, em uma bela casa. “A casa de Santos era linda. Nos reuníamos bastante lá. Íamos ver navio chegando no Porto. Ele comprou a casa lá para ficar mais perto da exportação do café”, relembra Aida.
Vaz Filho faleceu em 26 de fevereiro de 1968, 17 anos antes da última aparição do cometa Halley.

Publicado em 19 de fevereiro de 2013 pela edição nº 61 da Revista Kappa de Araraquara
Fotos: Lucas Tannuri e arquivo da família

Paixão pela Ferroviária


As tentativas frustradas da Ferroviária de retornar à elite do futebol paulista rendem muitas críticas ao time. Mas poucos têm tanta propriedade para comentar sobre a Ferroviária, sua história e sua situação atual na série A2 do campeonato paulista quanto Wanderley Nonato, o Fogueira, ex-lateral esquerdo e capitão do time de 1966, que liderou a campanha rumo à primeira divisão do Campeonato Paulista. 
Aquele que suava a camisa em campo, agora vai sempre ao estádio e não perde a oportunidade de assistir aos jogos ao lado dos antigos amigos. Tanta devoção está ligada a uma época em que foi muito feliz defendendo as equipes do interior. Natural de São José do Rio Preto (SP), estreou pelo América, se destacando entre os jogadores durante o torneio João Mendonça Falcão, da 1ª Divisão, em 1962. Atuou como lateral-direito, zagueiro, volante, mas se firmou mesmo na lateral-esquerda.
O jovem jogador chegou a ser sondado pelo Palmeiras, mas acabou vindo para a Ferroviária em 1963, com apenas 20 anos, onde ficou oito anos e participou de campeonatos que renderam queda e volta à Divisão Especial. Durante estas temporadas, foi capitão e cobrador oficial de pênaltis.
Emprestado para o Corinthians, disputou nove partidas pelo Timão. Depois, defendeu a camisa da Portuguesa por dois anos. Encerrou a carreira inesperadamente, jogando pelo Comercial de Ribeirão Preto. Ele tinha apenas 32 anos. “Num jogo contra a equipe de Bauru, estourei o joelho numa jogada chamada ‘cama de gato’. O atacante entrou por baixo e eu caí de cabeça, voltei o corpo e caí em cima do joelho. Esse jogador tinha sido mandado embora do Comercial e estava meio bronqueado com o ex-clube. Nessa jogada maldosa, me preparou essa. Mas hoje já esqueci, passou”, recorda.
Depois disso, Fogueira ficou por seis meses como técnico do Comercial, mas decidiu deixar o futebol. Voltou para São José do Rio Preto, onde o irmão já tinha uma ótica, e decidiu investir no mesmo segmento. Como a esposa é natural de Araraquara, voltou para a Morada do Sol, onde montou sua própria ótica e vive muito bem com família, garante. “Para mim, foi melhor, porque fui cuidar da minha vida e, graças a Deus, cheguei a atingir meu objetivo. Não me arrependo de nada”, confirma.
Mas ele não excluiu totalmente o futebol de sua vida. De volta à Araraquara, fez parte de duas diretorias da Ferroviária e, por oito anos, foi comentarista esportivo ao lado do radialista José Roberto Fernandes. Hoje comemora o fato de poder ir ao estádio como torcedor e extravasar todo o sentimento pelo time do coração.

HONRAR A CAMISA - Perguntado sobre o que o capitão de 1966 diria a respeito da atual equipe da Ferroviária, que luta para voltar à série especial, Fogueira dispara: “eu diria o seguinte - honrar a camisa que está vestindo, independente de qualquer coisa. Porque o bom profissional, quando entra em campo, não quer saber se a chuteira não é aquela, se o pagamento está atrasado e se o bicho vai ser x ou y. E união, porque eu fui capitão por cinco anos na Ferroviária e eu cobrava dos meus amigos. O capitão tem que ser um jogador com dignidade, força de vontade e mostrar que realmente tem capacidade, senão a equipe é um barco sem rumo”, finaliza. 

Palavra de capitão - “A solução seria a Ferroviária ter um Centro de Treinamento, pois a cada dia treina em um lugar diferente. Tínhamos um estádio, hoje não temos mais, não tem seu vestiário. Tinha até um campo de baixo, onde aconteciam os treinamentos, não tem mais. Essa é a realidade”, avalia Fogueira.
Ele diz que se sente decepcionado em ver o time do coração na segundona e garante que as equipes do interior, de um modo geral, foram prejudicadas pela Lei Pelé, pois os jogadores deixaram de ser dos clubes e passaram para as mãos dos empresários. “Não dá tempo de montar um time; a cada três meses muda tudo. Antigamente, uma equipe jogava seis, sete anos junta e existia conjunto. Hoje eles montam em cima da hora e não tem aquela técnica necessária para estar em condições melhores. Estrutura significa ter jogadores seus, que no ano seguinte possa contar, e ver o que está faltando e trazer para preencher e formar um time base. A Ferroviária tinha um time base, que eram os aspirantes, e quando vendia um jogador, o outro já entrava. O time não sentia, porque já vinha naquele mesmo esquema de jogo e treinamento”, afirma.

Publicado em 19 de fevereiro de 2013 pela edição nº 61 da Revista Kappa de Araraquara
Fotos: Mateus Rigola

Aos poucos, eles vão se rendendo à tecnologia


A conversa foi levada no ritmo de um relógio de bolso que estava sobre a mesa. O tic-tac mecânico era o único aviso sonoro que ponteava o bate-papo que jamais seria interrompido por uma ligação de celular. Poeticamente falando, era exatamente este o clima da entrevista no escritório do arquiteto e urbanista Francisco Santoro. Por muitos anos ele se recusou a incorporar aos seus hábitos diários tecnologias como computador, internet e celular. Tanto que ainda conserva em muito bom estado de uso a mesma máquina fotográfica que comprou em 1977, uma Olympus, para fazer imagens de seus projetos. “Gosto de revelar a foto em papel”, confessa. 
Chico já trabalhou com três prefeitos, desenvolveu muitos projetos para a cidade e região e hoje assina uma média de 20 trabalhos por mês. Além disso, é integrante do grupo “Os Chicos”, que tem um repertório diversificado com samba, MPB e bossa nova  e, eventualmente, se apresenta em bares da cidade.
Com tantas atividades e agitação no dia a dia, como viver sem a velocidade atual da comunicação? Ele responde: “Minha urgência é relativa. Se cair o prédio, é problema do engenheiro, sou arquiteto. O agora é importante, mas fiz a opção de não ficar escravo.” Para ele, tantas possibilidades tecnológicas de comunicação acabam com a alegria de ter a presença das pessoas. “É questão de educação e perdemos muito dela, porque estamos conversando e o celular toca, vou interromper para atender. Eu viajo muito de ônibus e não consigo dormir ou ler um livro porque tem muitas pessoas conversando no celular, ouvindo música”, exemplifica.
Do mesmo pensamento compartilha o educador físico Fábio Rogério Miquilini da Silva, 30. Ele relutou muito para ter um celular e agora tem, mas raramente usa. “Acabei comprando para suprir uma necessidade dos outros. A minha geração foi criada sem isso, acho falta de educação ficar atendendo o celular o tempo todo”, revela.
Ele é preparador físico da equipe de Basquete da Fundesport e por isso, precisa sempre de um contato direto com a equipe. Acabou comprando o celular de tanto as pessoas cobrarem e, principalmente, a esposa, que não aguentava mais marcar recados para ele; muita gente, quando precisa falar com Fábio, acaba ligando no celular da esposa para deixar recado. “Até o Facebook dela usam para passar recados para mim”, acrescenta o preparador físico, admitindo que se irrita de ver as pessoas penduradas no aparelho. E dentro da quadra, o celular é proibido.

NA MEDIDA CERTA - A psicóloga Daniele Zorzi explica que não há um padrão para denominar as pessoas dependentes da tecnologia, apenas que se trata de mais um fator comportamental de socialização, fruto do novo modo de vida. “Todos já estão engajados na sociedade e a sociedade está engajada neste modernismo. As pessoas que não aderem a esse comportamento acabam por se sentirem rejeitadas, excluídas da sociedade. Muitas vezes, esse comportamento de fazer tudo ao mesmo tempo está relacionado ao fato de tudo ser muito rápido e se você não for rápido o suficiente, corre o risco de ser excluído”, analisa. 
Para ela, é preciso identificar comportamentos patológicos. Esses sim merecem atenção e cuidados. “Se você dorme com o celular e a qualquer toque corre pra atender, é sinal de que está se tornando um viciado. Se você sai e o esquece, parece que teve uma parte do corpo amputada, também já é um dos sinais”, contextualiza Daniel. “O primeiro passo é ter consciência de que precisa maneirar no uso do aparelho”, acrescenta.
Para Fabio, as coisas são mais simples. O celular é quem tem que esperar para ser usado quando necessário e não apenas para situações imediatistas que podem ser resolvidas quando as pessoas estão juntas. Já para o arquiteto Chico Santoro, o celular foi adquirido recentemente para agregar valor ao seu trabalho. Ele se utiliza da internet e do próprio telefone quando está em suas viagens a trabalho. Também sempre abre seu e-mail, onde fala com os clientes. Mas nada de exageros.
A propósito, no pulso o arquiteto leva um relógio digital que possui várias funções, das quais nem mesmo ele sabe dizer ao certo que valia tem. Porém, o que ele mostra com orgulho é o Roskopf Patent, relógio de bolso suíço, muito utilizado no início do século passado por trabalhadores, principalmente, das ferrovias. O mesmo que serviu de inspiração para o início desta reportagem. “Era um modelo dado para chefes de estação. Gosto muito de usá-lo em eventos ferroviários”, finaliza Chico Santoro. 

Publicado em 19 de fevereiro de 2013 pela edição de nº 61 da Revista Kappa de Araraquara
Fotos: Lucas Tannuri

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Trilhos saem do centro da cidade neste primeiro semestre


Ainda neste primeiro semestre de 2013, os trens de carga não mais cortarão a cidade como tem acontecido no último século. É o que garante o prefeito Marcelo Barbieri (PMDB) à reportagem da kappa, no início do seu segundo mandato. “Em abril, a presidente Dilma [Rousseff] deve vir à Araraquara para a inauguração do novo ramal ferroviário e dar início ao grande projeto de reurbanização. Queremos uma nova Araraquara”, afirmou o prefeito, acrescentando que a data foi agendada pela assessoria do governo federal, mas ainda pode sofrer alterações, como já aconteceu. Barbieri mostrou detalhadamente o projeto de reurbanização que pretende implantar na área onde hoje ainda passam os trilhos e disse que vem trabalhando nele desde 2009, quando assumiu a Prefeitura pela primeira vez. “Nossa meta é fazer um novo centro administrativo, o município precisa passar por esta modernização e a retirada do trem é um marco muito importante”, enfatiza. 
A construção de novos acessos da Vila Xavier para o Centro, no entanto, ficará para uma segunda fase de obras. A ideia é abrir um acesso na altura área da rotunda onde funcionam as oficinas da América Latina Logística (ALL), na rotatória do Posto Pirâmides, e outro na avenida Feijó. O vice-prefeito Coca Ferraz, que é responsável pelas políticas de mobilidade urbana do Município, vai estudar e projetar esses acessos, mas ainda não há projeto e nem verba prevista para essa fase.
Quanto ao entrave ambiental que quase paralisou as obras, este foi resolvido através de uma parceria entre os governos estadual e federal, na qual o município assumiu a responsabilidade pelo plantio de 46 mil árvores em área reservada no Parque Pinheirinho. Plantio este que já está sendo feito, segundo o prefeito. Isso porque, para que as obras pudessem acontecer, uma área de 20 mil m² de mata nativa em Tutóia teve que ser erradicada para a implantação do pátio de manobras dos trens. O plantio diz respeito a essa compensação ambiental.
A conclusão do novo ramal ferroviário agora depende da construção de duas pontes: uma na continuação da estrada de ferro, na avenida que liga a cidade a Américo Brasiliense, próximo ao Parque Pinheirinho; e a outra na SP 255. Elas serão responsáveis pela ligação do ramal. A obra é de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), de acordo com Barbieri. 

PARQUE DOS TRILHOS - Com a retirada dos trilhos, sobrará muito espaço verde que, segundo o projeto da Prefeitura será disponibilizado para áreas de lazer, isso começando do Parque Pinheirinho, onde há nascente do Rio do Ouro e descendo em todo o seu entorno. São 356 mil m² que devem receber pistas de caminhada, quadras de esporte, ciclovias e espaços para esportes radicais. No Parque Pinheirinho, o projeto pede a revitalização do local e a implantação de um Parque Público com áreas impermeabilizadas, valorizando, principalmente, o elemento água como identidade local. O intuito é ainda o de promover a educação para a preservação do meio ambiente. O projeto inclui também a recuperação de córregos, como o Ribeirão do Ouro e o Ribeirão das Cruzes. “Estamos negociando com o BID e são 26 milhões de dólares. Fizemos um estudo e dividimos em áreas menores. Fomos à Secretaria de Estado do Meio Ambiente para negociar recursos para uma parte do Rio do Ouro, que é a parte que inundou e que não está nesse financiamento que já foi liberado. Vamos fazer a desapropriação das margens e começar o plantio de árvores para uma área verde forte dentro da cidade”, diz Barbieri. Toda a extensão do Rio do Ouro deve ser remodelada, integrando a área verde com a área urbana, por meio das passarelas para pedestres e pistas para veículos automotores. Há ainda o projeto de implantação de um sambódromo para o desfile das escolas de samba de Araraquara.

CENTRO ADMINISTRATIVO - Uma das partes mais ambiciosas do projeto de Barbieri é a construção de um centro administrativo que deverá centralizar órgãos públicos: Prefeitura, Câmara, Fórum, além das Secretarias Municipais seriam transferidos para esse centro, em prédios de três andares. Trata-se de uma área de 85 mil m² situada bem próxima do Centro Internacional de Convenções, Arena da Fonte e de uma futura Estação Gastronômica. Mas, para isso, além dos recursos, a Prefeitura precisaria ainda desapropriar uma área onde hoje funciona uma fábrica de artefatos de concreto, e remanejá-la para outro lugar.
ESTAÇÃO GASTRONÔMICA - Seguindo o projeto de uma nova Araraquara, Barbieri diz que a Prefeitura já negocia com o governo federal a concessão dos antigos prédios da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), onde estima-se a implantação de uma Estação Gastronômica inspirada na do Porto Madeira de Buenos Aires, na Argentina. “Com a retirada dos trilhos do Centro de Araraquara, os barracões perderão sua função principal”, justifica o prefeito, acrescentando que se trata de uma área de 238 mil m². No local, ele quer criar uma Estação Gastronômica com restaurantes, bares, áreas de lazer, estacionamento e quadra de esportes.


Museus, centros culturais e de lazer
Marcelo Barbieri afirmou que há inúmeros projetos visando áreas de lazer e centros culturais em muitas das partes fragmentadas do trecho que ficará sem os trilhos. Um destes projetos está ligado ao Museu Ferroviário. Segundo o prefeito, a intenção é incrementar ainda mais o que já existe. “Os armazéns ao lado da estação já são nossos, temos projetos para a recuperação destes imóveis. É uma área de 22 mil m² e a intenção é fazer um deck de madeira e uma grande área para eventos culturais, incluindo ciclovias, pista para pedestres, dentre outras”, disse.
Há ainda o projeto de um Museu da Mobilidade Urbana de Araraquara, que seria implantado na área das oficinas da América Latina Logística (ALL). “É uma área de 17mil m² que seria utilizada para atividades culturais, cientificas, Museu da História da Mobilidade Urbana, anfiteatro, biblioteca, Escola Mirim de Trânsito, espaços livres para colocar quadras, área de lazer. Aqui tem uma nascente e deve-se fazer uma lâmina d’água. São ideias que estão sendo trabalhadas. Não é um projeto final”, enfatiza. O projeto prevê ainda a implantação de uma Escola Mirim de Trânsito e um Centro da Sustentabilidade e História Natural.

Busca de recursos
Para colocar em prática esse projeto de uma nova Araraquara, o prefeito Marcelo Barbieri admite que ainda vai ter que trabalhar muito em busca de recursos. Parte da verba para o início das obras deve vir do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que, segundo ele, “já pré-aprovou o projeto araraquarense”. “O projeto do Parque dos Trilhos já passou pela comissão de empréstimos exteriores, denominada Cofiex [Comissão de Financiamentos Externos], e já estamos em uma fase avançada de negociação”, diz.
Ele acredita que a preocupação ambiental demonstrada pelo município e ratificada pelas conquistas do Selo Verde abriram muitas portas. “O BID, quando foi analisar nosso projeto, prestou atenção em toda a prática ambiental da cidade, porque ele financia projetos de mobilidade urbana, de melhorias fiscais e de meio ambiente. E esse projeto engloba os três: a implantação de novas vias, a mudança da prefeitura para um sistema mais moderno que vai melhorar a questão fiscal, e a questão ambiental. Nós pré-aprovamos o projeto no BID, agora tem que ir para o Senado, para que autorize o empréstimo. É um pagamento a longo prazo. Mas, sem dúvida, será a grande mudança na vida de Araraquara”, conclui o prefeito, que se mostra confiante na implantação de todas as obras.

Publicado em 05 de fevereiro de 2013 na edição 60 da Revista Kappa
Fotos: Mateus Rigola 

Atletas pedem reforma da pista da 36


Em julho, a cidade receberá atletas de 35 cidades da região de Araraquara, São Carlos, Ribeirão Preto e Franca, quando sediará a 57ª edição dos Jogos Regionais do Interior. É pensando nas competições que a Prefeitura se apressa para terminar a reforma do Ginásio Castelo Branco, o Gigantão, e do Ginásio Guilherme Fragoso Ferrão, Ginásio da Pista, no São Geraldo, onde uma nova quadra deve ser concluída neste mês com o fechamento dos alambrados acima das muretas reconstruídas e a pintura do espaço onde serão realizadas as disputas de futsal, vôlei e handebol. O local também recebeu cobertura metálica e novo piso de concreto armado, além de novo sistema de iluminação. Também foi licitada e está em fase de liberação de recursos, a troca do piso da quadra interna do ginásio e melhorias para a implantação de tabelas móveis de basquete. Já foi feito contato com uma empresa de São José dos Campos, responsável pela obra, que irá custar R$ 147 mil.
Mas, com relação à pista de atletismo, ainda não há pedido de remodelação, como informou o secretário municipal de Obras Públicas, Valter Rossato, o Laxixa. “Para os jogos, vamos fazer alguns reparos para deixar a pista em ordem, mas reforma e colocação de pista emborrachada, ainda não há nada oficial”, disse. A mesma informação foi confirmada pelo Secretário Municipal de Esportes e presidente da Fundesport, Adilson Custódio. 
A questão é que os atletas que se utilizam da pista diariamente para os treinos reclamam da falta de condições, que hoje apresenta muitos buracos, necessitando de pintura das bordas e demarcação das raias; a escada de cronometragem deveria ser melhor posicionada; trocadas as gaiolas de lançamento de disco e martelo; pintura dos alambrados, além da compra de materiais novos, como colchões para competições de salto em distância e com vara. “Meses atrás a pista foi pintada, mas a tinta saiu muito rápido. A pista está cheia de buracos e a grama está ruim e bem alta nas beiradas. As luzes muito fracas para os treinos noturnos e na saída de cima, não tem iluminação”, diz a atleta Pamela Manzoni, que há dois anos treina na pista da 36.
INVESTIMENTOS - “Uma pista oficial mudaria tudo, não sentiríamos tanta diferença e tanto desgaste físico em competir em grandes eventos se tivéssemos melhores condições de treino. A equipe de atletismo sempre volta das grandes competições com resultados e medalhas no peito, mas não tem patrocínio nenhum”, diz Batista Ferreira Rodrigues Haddad, 33, que compete pela Fundesport há 13 anos na modalidade de lançamento de martelos. Batista é campeão dos Jogos Regionais de 2010, vice-campeão da 2ª divisão dos Jogos Abertos do Interior de 2009, 3º colocado no geral do Festival do Lançamento do Martelo 2009.
Os atletas contam que o ideal seria a implantação de uma pista emborrachada de 400 metros, oficial, a qual abriria as portas para competições maiores como Troféu Brasil, Jogos Abertos do Interior, dentre tantas outras. Com esta pista sintética, o ginásio seria credenciado pelas Federações de Atletismo e estaria apto a receber competições nacionais e internacionais. O problema é que uma obra deste porte custaria em torno de R$ 4,5 milhões. Porém, cuidados extras teriam que ser redobrados, como manutenção e implantação de horários abertos ao público, pois hoje, muitas pessoas se utilizam do local para fazer.
Um pouco de história 
José Luiz Bonifácio, o Boni, treinador de atletismo da Fundesport conta que o Ginásio da Pista foi inaugurado em 1969 para que Araraquara pudesse sediar, pela primeira vez, os Jogos Regionais do Interior. Boni trabalha no Ginásio da Pista há 38 anos e já viu muitos jovens competidores passarem por lá, sendo medalhistas ou não. “A pista é um lugar curioso até, porque as pessoas que vêm aqui sonham em ser atletas famosos. Eles treinam para alcançar algo, diferente das pessoas que saem para fazer uma simples caminhada ou um esporte. Eles não falam, mas a gente percebe”, conta.
Ele concorda que uma pista oficial traria novo fôlego aos atletas e projetaria o nome da cidade para as maiores praças do esporte brasileiro. “Essa é a única pista de atletismo de Araraquara e, no Brasil, existem poucas pistas oficiais como devem ser. Seria um sonho conseguir algo desse porte para nossa cidade”, conclui.

Publicado em 05 de fevereiro de 2013 na edição nº 60 da Revista Kappa
Fotos: Lucas Tannuri

A arte vibrante


“O artista transmite sobre a tela a alma, a personalidade, a riqueza de expressão, de força ou de sentimento, que regata do modelo, ao ser pintado, imortalizando, todo o seu interior, ainda que possa aparentar a mais indiferente condição. Ernesto Lia confirma a habilidade da figura humana, que é o seu forte”. Assim o nosso mais ilustre araraquarense das artes plásticas foi descrito pelo italiano Antonio Malmo, crítico especialista em arte moderna, pintor, correspondente da Nacional Associação Histórica ‘Médio Volturno di Piedimonti Matese’ de ‘II Pungolo’, membro da Academia Tiberina de Roma, membro da União da Legião de Ouro de Roma, membro da Academia Internacional ‘II Persco’, de Florença e ligado à ONU. 
Este é apenas uma das críticas que recebeu ao longo dos anos pelo trabalho de reconhecimento internacional, ao qual o pintor sempre se dedicou. Muitos, o comparando com a mesma força de expressão e sentimentos utilizadas pelas técnicas de Leonardo da Vinci. A mesma força de expressão pode-se enxergar em seus retratos, na quantidade de sentimentos emitidas pelo olhar de suas modelos. Em 1987, a jornalista Dulce Damasceno de Brito disse: “Ernesto Lia é o artista que melhor captou a verdadeira Carmem (Miranda) através de seus pincéis”. E não é para menos. Seu retrato de Carmen canta e dança, contagia com o brilho do olhar, tão expressivo quanto a arte da “pequena notável”.
O artista revela que essa expressividade retratada em suas pinceladas, ele capta ao observar a modelo, em seus trejeitos, em sua maneira de falar e agir. “Eu nunca descrevo uma tela para ninguém, eu colho o que ela está causando para o expectador. Muitas das análises e opiniões, mesmo diferentes uma das outras, elas se aproximam. É muito raro você ouvir uma discrepância, uma coisa absurda”.
Lia nasceu com o dom de desenhar e sempre foi muito estimulado pelos pais. “Eu serei eternamente grato por isso”, afirma. Desde o início, sempre pintou se utilizando de duas técnicas distintas: paisagens em óleo e retratos em arte pastel. Hoje ele trabalha na composição de paisagens utilizando as cores em sua essência pura. Em busca de inspiração, gosta de sair pelas ruas da cidade e seu entorno, conversar com as pessoas. Diz que este contato com o mundo exterior é o que lhe enche de motivos para se fechar em seu ateliê e deixar a arte fluir, transformando as telas. Essas paisagens farão parte de uma futura exposição sem data definida, pois diz que gosta de trabalhar com paciência.
E a arte não é sua única paixão. “Sou um apaixonado por crianças, tanto é que tenho feito uma comparação das crianças com pássaros: são inocentes. Nós temos uma missão na vida, que é espalhar o amor. Eu, felizmente, não sou perfeito, mas a gente procura viver da melhor maneira possível. Inclusive amando, amando tudo” finaliza.
História – Ernesto Lia se formou em 1956 pela Escola de Belas Artes de Araraquara e estagiou no ateliê do italiano De Genaro, em São Paulo. Logo em seguida, recebeu a Grande Medalha de Ouro do Salão dos Artistas Unidos do Brasil e, desde então, ganhou diversos prêmios, nomeações e outorgas nacionais e internacionais, incluindo a honraria de ser “Membro do Grand Prieuré do Brasil e Suíça”; a Gold Great Master Medal – Curtis Hixon Convention Center; a Grande Médaille D’or – Exposition D’art Contemporain – Nice; A Medalha Grande de Ouro – 1ª Exposição de Arte Contemporânea Brasileira – Expofair – Lisboa, dentre muitos outros.
Suas telas são exportadas para diversas partes do munod, como EUA, Argentina, Suíça, África do Sul, França.

Publicado em 05 de fevereiro de 2013 na edição nº 60 da Revista Kappa
Fotos: Lucas Tannuri 

Casos de diabetes tipo 1 têm aumentado em crianças


Estudo da Federação Internacional de Diabetes aponta para um rápido crescimento da diabetes tipo 1, especialmente entre crianças e adolescentes, algo em torno de 3%. Atualmente, 371 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de diabetes e cerca de 78 mil são menores de 15 anos. O estudo diz que 25% das crianças que desenvolvem o tipo 1 são diagnosticadas quando já se encontram em estado grave. Porém, a maioria dos casos é de diabetes tipo 2, provocada, principalmente, pela obesidade e por um estilo de vida desregrado. 
A nutricionista Rita de Cássia Garcia Pereira (CRN 3-5785), coordenadora da Clínica Integrada de Saúde da Uniara, que desenvolve um programa de prevenção e reeducação alimentar para pacientes da rede pública de saúde, quando a diabetes é diagnosticada, o paciente é encaminhado para tratamento específico. “Diabetes tipo 2 são os casos que mais vemos como problema de saúde pública e está relacionada ao estilo de vida, obesidade. Já a tipo 1, é uma doença autoimune e quem diagnostica e trata é o médico. Os pais devem saber que a obesidade e os hábitos inadequados são determinantes de vários problemas que podem se estender até a vida adulta. Doenças crônica- degenerativas tais como hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares são silenciosas e se estendem. Portanto, devemos trabalhar com prevenção”, defende ela.
Segundo os especialistas, a doença se manifesta quando o organismo não pode produzir ou utilizar de maneira eficiente a insulina, um hormônio que regula o nível de açúcar no sangue. O diabetes tipo 2 pode permanecer sem ser diagnosticado durante muito tempo, mas, no caso do tipo 1, se o paciente não recebe injeções de insulina diariamente para controlar seus níveis de glicose, corre risco de morte.
Entre os principais sintomas estão a necessidade frequente de urinar, sede abundante, cansaço extremo e uma perda inexplicável de peso. “Diabetes tipo 1 é diagnosticada quando não há produção insulina, geralmente com processo autoimune, e o organismo produz anticorpos que destroem uma parte do pâncreas. Isso não tem nada com genética”, diz o endocrinologista Welson Alves Ferreira Junior (CRMSP-51056), acrescentando que a insulina é o hormônio responsável por transportar o açúcar dos alimentos para dentro das células. Portanto, para diabetes tipo 1, o único tratamento é injeção de insulina.
Já o tipo 2 está ligado à hereditariedade. Com o envelhecimento, o pâncreas passa a diminuir sua produção de insulina e, para tratamento, a pessoa tem que se adequar a uma dieta com exercícios e até o uso de remédios. “O fator emocional, o estresse, liberam um hormônio chamado cortisol, que vai estimular a produção de adrenalina. Quanto mais estresse, mais adrenalina na circulação, que estimula a produção do cortisol, que é um hormônio que dificulta ação da insulina”, contextualiza o Dr. Welson.
Ele explica que a maior prevenção em ambos os casos é levar sempre uma vida saudável, com bons hábitos alimentares e exercícios físicos, sejam adultos ou crianças.

É possível conviver com o diabetes
Mariana de Souza Carmona, 7 anos, foi diagnosticada com a diabetes tipo 1 quando estava prestes a completar 2 anos. A mãe Estela de Sousa diz que tem histórico na família, mas acredita que a doença tenha cunho emocional, pois se desenvolveu um mês depois da morte de uma tia da menina. “Eu sofri muito com a perda da minha irmã e ela sentiu isso”, revela.
Estela conta que a experiência que já tinha com o avô e o irmão, ambos portadores de diabetes, permitiu que ela percebesse logo os sintomas na filha. “Prestei atenção que ela começou a fazer muito xixi e a bater a cabeça pelos cômodos da casa. Além disso, Mariana perdeu dois quilos muito rápido”, acrescenta. A mãe correu para o médico. “O pediatra se assustou com o resultado, foi o primeiro caso dele de diabetes. Sou muito agradecida ao Dr. Jairo, porque ele foi estudar a doença, buscou orientação para tratar a minha filha. Também a encaminhou para um endocrinologista, que a trata muito bem. Hoje nossa vida é controlada”, diz Estela.
E é mesmo. Tudo é cronometrado: as oito refeições diárias e os dez exames de destro. Mariana tem hora para comer e somente alimentos saudáveis. Fugir da rotina, muito raramente, isso com um brigadeiro ou um pedacinho de pizza, que a menina adora. “O fato de ter sido educada assim desde pequena ajuda muito. Ela não consegue comer mais que três brigadeiros em uma festinha. O problema maior é o cansaço com as brincadeiras, porque isso também altera as taxas hormonais. Mas aqui em casa, todo mundo virou diabético, todos entraram na dieta”, conta a mãe, que optou por ser franca com a filha e orientá-la. Tanto que Mariana sabe fazer o destro sozinha e também sabe calcular suas taxas glicose. “Como ela tem que comer nos horários certos, leva dois tipos de lanche para a escola. Então, faz o exame e sabe que lanche deve comer. Se por acaso, dentro da van, na volta para casa, fica meio zonza, ela faz o destro novamente e come o restinho do lanche. Tira de letra”, confirma. 
A menina nunca se aplicou a injeção de insulina, que deve ser feita todos os dias, mas diz que sabe o que fazer, caso a mãe faltar. Ela também conhece todos os seus horários e cardápios. “Tento orientá-la, porque cada exagero, são três dias de glicose alterada. Enquanto eu for responsável por ela, não vou deixar que nada saia dos trilhos e ela sabe disso.”
Para Mariana, que pretende ser veterinária um dia, a vida não é tão diferente assim. Até palpita no lanche dos colegas. “Eu não sei o que eles comem, mas o meu é mais gostoso”, afirma. E a doença da menina forçou a família a também buscar uma vida equilibrada e mais saudável. “Eu sou paulistana e sempre tive uma vida desregrada, sem hora para dormir, comendo fast-food. A Mariana me colocou freio. Hoje sou um relógio. Na minha bolsa nunca falta um lanche, uma bolacha de água e sal; dentro do destro, nunca falta saches de açúcar. Eu sempre digo que essa menina é um doce, já nasceu docinha para melhorar a nossa vida”, resume a mãe.

Publicado em 05 de fevereiro de 2013 na edição nº 60 da Revista Kappa
Fotos: Lucas Tannuri


‘A gente entende de Solidariedade’


Nestes dois anos e meio de kappa magazine em Araraquara, a revista entrevistou milhares de personagens marcantes, com histórias emocionantes, fatos curiosos, envolventes, críticos, engraçados e inesquecíveis. Estas reportagens foram responsáveis por evidenciar e perpetuar no papel impresso, com muito carinho, diga-se de passagem, trabalhos e trabalhadores que constroem esta cidade com muito zelo e dedicação para levar ao próximo um pouco mais de atenção, noção de cidadania, educação, alimentos, roupas e, o que é mais importante, a mão amiga e caridosa, estendida sem pedir nada em troca. Pessoas que vão em busca de seu papel na sociedade, que brigam pela mudança e que não aceitam a banalização da criminalidade e o descaso do poder público com os mais necessitados. 
Para começar 2013 e produzir a sua edição de número 60, a kappa resolveu revisitar 10 entidades das quase 60 que estamparam nossas páginas destinadas ao espaço Solidariedade, que elege e destaca o trabalho de cada uma destas instituições. A escolha foi aleatória. O resultado não poderia ser melhor: em todas as 10, recebemos a notícia de que cumprimos o nosso papel social enquanto veículo de comunicação comprometido com a comunidade local: conseguimos atingir um grande público, informando sobre o trabalho desenvolvido por elas e suas reais necessidades. Todos os representantes ouvidos afirmaram que o resultado foi positivo e imediato. Isso não quer dizer que todos os problemas foram solucionados, pois elas precisam muito de doações para continuar sobrevivendo. O que mudou com a divulgação foi aumentar o interesse de mais pessoas pelo trabalho social, seja com novas mãos que fazem ou com recursos para a construção de espaços, abrigos, refeitórios, salas de aula. Para você leitor que está com esta edição nº 60 nas mãos, o nosso muito obrigado por dar atenção a este texto. Ele retrata o trabalho de pessoas muito especiais, que realmente entende de ‘Solidariedade’. Relembre um pouco dessas histórias nas declarações de representantes de cada uma ou releia as matérias em nosso site www.revistakappa.com.br, folheando as edições on-line.
Asilo São Francisco de Assis - “Nossa entidade recuperou o seu nome. Atende hoje 150 pessoas e está lotada, com lista de espera. Hoje temos as contas em dia e contamos com doações de pessoas físicas e jurídicas para manter uma equipe de profissionais de saúde que garante o bem estar de nossos idosos. Recebemos elogios de equipes municipais, estaduais e federais que vem nos visitar e conquistamos a credibilidade dos parentes de nossos atendidos. A publicação (edição 2) ajudou muito a mostrar que o Asilo São Francisco de Assis é um lugar que oferece qualidade de vida com um trabalho sério”. José Alberto Santarelli
Liga Araraquarense de Combate ao Câncer - LACCA - “Hoje, cuidamos de 350 pacientes, contabilizando um total de 600 atendimentos por mês. Continuamos precisando do apoio da comunidade, mas posso dizer que a divulgação foi satisfatória, pois deu uma alavancada no número de pessoas que passaram a conhecer o nosso trabalho. A matéria (edição 6) foi uma ajuda muito importante”. Luis Nacir
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE - “A APAE completa 50 anos em Araraquara em 2013 e nosso trabalho com pessoas com deficiência intelectual e múltipla evoluiu. A revista se fortaleceu na cidade e é tida como referencia, chegando a todas as camadas sociais, o que faz com que todos, indiscriminadamente, conheçam o nosso trabalho (edição 9). E quando a notícia é mostrada de maneira positiva, ela sempre traz retorno positivo. Hoje atendemos gratuitamente 330 alunos que custam R$ 700 por mês. Temos parcerias com os governos municipal, estadual e federal, mas precisamos sempre da colaboração da comunidade, que responde ao nosso chamado”. Ligia Maria Costa Celante.
Lar Escola Redenção - “Nossa entidade tem 34 anos de Araraquara e atende cerca de 150 crianças e adolescentes com cursos de informática, profissionalizantes, em parceria com o Senai. Temos três unidades. Apesar de tanto tempo, muitas pessoas desconhecem o nosso trabalho. Por isso, a divulgação pelos veículos de comunicação é sempre muito positiva pra gente. A reportagem (edição 15) ajudou muito, até mesmo pela penetração que a revista tem na nossa comunidade”. Jorge Lorenzetti
Amor Exigente - “A revista (edição 16) divulgou o nosso trabalho e muita gente nos procurou a partir disso. Naquela época não tínhamos sede própria. Conseguimos construir e mudar para a Avenida João Martins Nogueira, no Jardim Morada do Sol, que todos conhecem também por Jardim Brasília. Trabalhamos com grupos de famílias para desencorajar a violência e incentivar a cooperação comunitária e familiar. Temos também o Amor Exigentinho, que trabalha com crianças a partir de 4 anos; este ano vamos começar as palestras com crianças das pré-escolas. Já treinamos diretores e vamos trabalhar com professores das escolas municipais. Precisamos muito de voluntários para espalhar este trabalho”. Maria Lucia Gil de Oliveira
Instituto dos Cegos Santa Luzia - “Graças a Deus, hoje posso dizer que conseguimos estabilizar as nossas contas. Conseguimos aumentar a nossa capacidade de doações em alimentação e produtos de limpeza. A revista (edição 23) colaborou muito na divulgação do nosso trabalho com pessoas com deficiência visual, muitas delas abandonadas pelas famílias. As pessoas comentaram muito pela cidade, por onde passei e, com certeza, a reportagem nos abriu portas”, José Carlos Zanoni
Lar Nosso Ninho “Therezinha Maria Auxiliadora” – “Toda divulgação é bem vinda e a reportagem (edição 25) nos ajudou muito. Melhorou bastante em termos de doações, mas os voluntários ainda continuam os mesmos. Mas é devagar. Muitos aparecem com boa vontade, mas nos ajudam mais nos eventos, porque o trato com as crianças com deficiência exige muita dedicação e compromisso. Só temos a agradecer. Estamos sempre correndo atrás, buscando doações; a verba que temos mal dá para pagar os funcionários. Este ano, estamos reformando o quarto das crianças e nossa meta é reformar o salão de festas para aluguel e para nossos eventos”. Alda Maria Comito Julien
Casa da Criança Cristo Rei – “Trabalhamos hoje com 16 crianças e dois adolescentes, encaminhados pela Vara da Infância e Juventude. Procuramos reproduzir a própria casa deles aqui e temos uma equipe que cuida muito bem de nossas crianças. Isso mostramos na matéria (edição 31). Temos ajuda do estado e município, mas 90% de nossas despesas são custeadas por doações de pessoas físicas e por arrecadação em nossos eventos. Trabalhamos com as famílias também e ajudamos com as doações de roupas, alimentos e até móveis que recebemos. O que sobra, é reservado para os bazares, na captação de mais recursos. A população tem comparecido aos nossos eventos e informar sobre o nosso trabalho é sempre muito importante”. Edgar Cervan
Casa Betânia – “Depois da reportagem (na edição 34) apareceram voluntários que vem e vão, mas as doações aumentaram. Muitas pessoas nas ruas nos falam que viram a reportagem e o pessoal do telemarketing quando liga para a pessoa, ela fala que conhece a entidade pela revista. E aí, as pessoas dão mais credibilidade ao nosso trabalho, porque passam a conhecer. Atendemos meninas em situação de risco social encaminhadas pela Vara da Infância e Juventude. Hoje ainda estamos pleiteando recursos para a construção de nossa sede, algo em torno de R$ 100 mil, e precisamos de ajuda para começar”. Izabel Alves Petrucelli
Casa da Sopa do Centro Espírita “Caminho da Luz” – “A repercussão da reportagem (edição 39) foi tão positiva que conseguimos a doação de tijolos, material de construção, piso para a ampliação de nossa sede, que começa em junho. Muitas pessoas que se mudaram para o bairro há pouco tempo, não sabiam do nosso trabalho e passaram a conhecer graças à revista. Isso aumentou o número de pessoas em busca da sopa, o número de doações e o número de pessoas interessadas em participar do Centro e ajudar nos trabalhos voluntários. Mas, nós continuamos precisando de mãos voluntárias para ampliar o atendimento”. Alberto José Andrade

Publicado em 05 de fevereiro de 2013 na edição nº 60 da Revista Kappa
Fotos: Fabiano Vagner