A avenida Francisco Vaz Filho, antigamente era chamada
de Estrada Municipal e ligava Araraquara a Américo Brasiliense. Recebeu essa
denominação em 1974, por meio de decreto municipal de autoria do então prefeito
Clodoaldo Medina. Quatro décadas depois, a via se tornou um dos mais importantes
pontos de comércio da Vila Xavier e da cidade, comportando desde loja de
móveis, material de construção, salões de beleza, oficinas e até casa de
aluguel de vestidos de noiva. Em 3,4 quilômetros de extensão, ela começa na
Alameda Paulista e segue até o Parque Pinheirinho, passando por oito bairros: Vila
Biagioni, Jardim Pinheiro, Vila Joinville, Jardim América, Jardim Europa,
Jardim Gaspar, Jardim Floridiana e Vila Tito de Carvalho.
Levantar quem foi Francisco Vaz Filho e seu legado não
foi tarefa fácil, já que a maioria de seus descendentes já não vive em
Araraquara. Eles estão em Santos, litoral paulista, onde o cafeicultor araraquarense
montou uma Companhia de Exportação para escoar o café produzido nas
propriedades do interior de São Paulo.
Mas, antes disso, Vaz Filho fez história em
Araraquara. Ele chegou inclusive a ser prefeito, por um curto período de três
meses. Aliás, foi o primeiro a assinar o livro de posse da Prefeitura, em 3 de
julho de 1932. Assim como Vaz Filho, outros nomes de influência local também
assumiram a Prefeitura por ordem do interventor Federal no Estado de São Paulo.
Eram épocas difíceis da Revolução Constitucionalista de 1930, movimento armado
liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que culminou
com um golpe de Estado e depôs o Presidente da República Washington Luís, em 24
de outubro de 1930. O movimento impediu a posse do presidente eleito Júlio
Prestes e pôs fim à República Velha.
Da mesma forma, começou a diminuir o poder dos
coronelistas sob a política local. Este período, entre 1929 e 1932, foi o marco
do fim dos mandatos de Plínio de Carvalho, Bento de Abreu, Carlos Batista
Magalhães, Américo Daniele e Dario de Carvalho, iniciado em 1908. Estes
coronéis foram os idealizadores da ‘Cidade-Modelo’, os quais implantaram, em um
período de 22 anos, as principais obras de embelezamento da cidade, mas também
comandaram com mãos de ferro a política local.
REVOLUÇÃO DE 1930 - Assim como conta o sociólogo e
jornalista José Maria Viana de Souza, em seu livro A Ideologia da Cidade-Modelo, “o edifício da República Velha ruía
sem oferecer resistência e a Revolução de 30 chegava para acertar contas com o
passado oligárquico, abrindo caminho para uma reformulação radical da vida
política nacional. Novos atores nomeados por decreto do interventor federal em
São Paulo (governador) dirigiam a cidade por períodos muito curtos”.
Um texto escrito por Bento de Abreu para a edição de
10 de julho de 1932 do jornal O Imparcial, pede apoio ao novo prefeito, justificando
que as mudanças ocorridas na administração eram reflexo do período que o país
atravessava; isso se referindo à crise econômica de 1929 e Revolução de 1930. “Nesse
período anormal, o prefeito não tem autonomia, como tinha no período
constitucional. Daí a necessidade que todos os bons elementos locais o apoiem e
prestigiem-no para que ele possa ter força de bem governar a cidade. Estou
certo que este apoio não faltará, dadas as qualidades pessoais do novo
prefeito”, assina Bento A. Sampaio Vidal.
Recordações
da família - Francisco Vaz Filho era
filho de Carlota Côrrea D’Almeida, da família Lourenço e Côrrea, filha do
comendador Joaquim Lourenço Côrrea, que se mudou para Araraquara em 1840, e
neta do sargento-mor José Joaquim Corrêa da Rocha, juiz das medições e que aqui
adquiriu o Lageado quando veio assistir a medição de terras em 1812. Seu pai,
Francisco Vaz D’Almeida, nasceu em Porto Feliz e veio para Araraquara para
plantar café. Foi dono de muitas propriedades na cidade e região. Era membro da
antiga nobreza portuguesa.
Do primeiro casamento, com Aida Côrrea, nasceu seu
primogênito e companheiro nos negócios; Rubens Vaz. “A vovó morreu quando o
papai tinha uns 18 meses. Ouvi dizer que foi tuberculose, mas eles não diziam
estas coisas. Meu nome foi uma homenagem para ela”, diz Aida Maria Lepre Vaz,
de 71 anos, neta de Vaz Filho. Ela ainda mora no antigo casarão comprado por seu
pai no centro de Araraquara há quase um século, e conserva muitas lembranças e
histórias.
Aida conta que da grande família sobrou em Araraquara
ela e mais uma prima. Do avô, guarda poucas lembranças, como o seu jeito sério
e seu olhar profundo. “Ele não tinha muita conversa, era muito sério, muito
fechado. Sentava no cantinho e conversava mais com meu pai. Nós ficávamos mais
no quintal, brincando. Quando ele ainda conseguia andar, descia até o banco na
frente da casa e conversava com os conhecidos que passavam”, relembra.
Vaz Filho acabou ficando paralítico após um tombo que
levou de um bonde em Santos. Primeiro andava com dificuldades, sempre com uma
muleta a tiracolo, mas depois precisou usar cadeira de rodas. O cafeicultor
também estava sempre de óculos escuros, pois era cego de um olho, devido a um
tracoma, doença que afeta a conjuntiva e que leva a uma inflamação crônica.
“Ele estava sempre de Ray Ban preto”,
lembra Aida.
Por volta de 1923, Vaz Filho casou-se pela segunda vez,
com Maria Teresa de Andrada Fortes, a dona Sinhá, com quem teve três filhos:
Cyro, Maria Antonietta e Carlos Armando. “Ele era sério, mas gostava de contar
muitas histórias, tinha um humor inteligente. Falava muito da passagem do
cometa Halley, dizia que nós veríamos, mas ele não”, conta a neta Maria Luísa
Albiero Vaz, de 53 anos, historiadora e que mora em São Paulo.
Francisco Vaz Filho, depois de casado, morou até o fim
da vida em um palacete na Rua Padre Duarte, esquina com a Rua Duque de Caxias,
onde hoje funciona uma agência bancária. Por quase 15 anos morou em Santos, em
uma bela casa. “A casa de Santos era linda. Nos reuníamos bastante lá. Íamos
ver navio chegando no Porto. Ele comprou a casa lá para ficar mais perto da
exportação do café”, relembra Aida.
Vaz Filho faleceu em 26 de fevereiro de 1968, 17 anos
antes da última aparição do cometa Halley.
Publicado em 19 de fevereiro de 2013 pela edição nº 61 da Revista Kappa de Araraquara
Fotos: Lucas Tannuri e arquivo da família
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