terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Paixão pela Ferroviária


As tentativas frustradas da Ferroviária de retornar à elite do futebol paulista rendem muitas críticas ao time. Mas poucos têm tanta propriedade para comentar sobre a Ferroviária, sua história e sua situação atual na série A2 do campeonato paulista quanto Wanderley Nonato, o Fogueira, ex-lateral esquerdo e capitão do time de 1966, que liderou a campanha rumo à primeira divisão do Campeonato Paulista. 
Aquele que suava a camisa em campo, agora vai sempre ao estádio e não perde a oportunidade de assistir aos jogos ao lado dos antigos amigos. Tanta devoção está ligada a uma época em que foi muito feliz defendendo as equipes do interior. Natural de São José do Rio Preto (SP), estreou pelo América, se destacando entre os jogadores durante o torneio João Mendonça Falcão, da 1ª Divisão, em 1962. Atuou como lateral-direito, zagueiro, volante, mas se firmou mesmo na lateral-esquerda.
O jovem jogador chegou a ser sondado pelo Palmeiras, mas acabou vindo para a Ferroviária em 1963, com apenas 20 anos, onde ficou oito anos e participou de campeonatos que renderam queda e volta à Divisão Especial. Durante estas temporadas, foi capitão e cobrador oficial de pênaltis.
Emprestado para o Corinthians, disputou nove partidas pelo Timão. Depois, defendeu a camisa da Portuguesa por dois anos. Encerrou a carreira inesperadamente, jogando pelo Comercial de Ribeirão Preto. Ele tinha apenas 32 anos. “Num jogo contra a equipe de Bauru, estourei o joelho numa jogada chamada ‘cama de gato’. O atacante entrou por baixo e eu caí de cabeça, voltei o corpo e caí em cima do joelho. Esse jogador tinha sido mandado embora do Comercial e estava meio bronqueado com o ex-clube. Nessa jogada maldosa, me preparou essa. Mas hoje já esqueci, passou”, recorda.
Depois disso, Fogueira ficou por seis meses como técnico do Comercial, mas decidiu deixar o futebol. Voltou para São José do Rio Preto, onde o irmão já tinha uma ótica, e decidiu investir no mesmo segmento. Como a esposa é natural de Araraquara, voltou para a Morada do Sol, onde montou sua própria ótica e vive muito bem com família, garante. “Para mim, foi melhor, porque fui cuidar da minha vida e, graças a Deus, cheguei a atingir meu objetivo. Não me arrependo de nada”, confirma.
Mas ele não excluiu totalmente o futebol de sua vida. De volta à Araraquara, fez parte de duas diretorias da Ferroviária e, por oito anos, foi comentarista esportivo ao lado do radialista José Roberto Fernandes. Hoje comemora o fato de poder ir ao estádio como torcedor e extravasar todo o sentimento pelo time do coração.

HONRAR A CAMISA - Perguntado sobre o que o capitão de 1966 diria a respeito da atual equipe da Ferroviária, que luta para voltar à série especial, Fogueira dispara: “eu diria o seguinte - honrar a camisa que está vestindo, independente de qualquer coisa. Porque o bom profissional, quando entra em campo, não quer saber se a chuteira não é aquela, se o pagamento está atrasado e se o bicho vai ser x ou y. E união, porque eu fui capitão por cinco anos na Ferroviária e eu cobrava dos meus amigos. O capitão tem que ser um jogador com dignidade, força de vontade e mostrar que realmente tem capacidade, senão a equipe é um barco sem rumo”, finaliza. 

Palavra de capitão - “A solução seria a Ferroviária ter um Centro de Treinamento, pois a cada dia treina em um lugar diferente. Tínhamos um estádio, hoje não temos mais, não tem seu vestiário. Tinha até um campo de baixo, onde aconteciam os treinamentos, não tem mais. Essa é a realidade”, avalia Fogueira.
Ele diz que se sente decepcionado em ver o time do coração na segundona e garante que as equipes do interior, de um modo geral, foram prejudicadas pela Lei Pelé, pois os jogadores deixaram de ser dos clubes e passaram para as mãos dos empresários. “Não dá tempo de montar um time; a cada três meses muda tudo. Antigamente, uma equipe jogava seis, sete anos junta e existia conjunto. Hoje eles montam em cima da hora e não tem aquela técnica necessária para estar em condições melhores. Estrutura significa ter jogadores seus, que no ano seguinte possa contar, e ver o que está faltando e trazer para preencher e formar um time base. A Ferroviária tinha um time base, que eram os aspirantes, e quando vendia um jogador, o outro já entrava. O time não sentia, porque já vinha naquele mesmo esquema de jogo e treinamento”, afirma.

Publicado em 19 de fevereiro de 2013 pela edição nº 61 da Revista Kappa de Araraquara
Fotos: Mateus Rigola

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