As tentativas frustradas da Ferroviária de retornar à elite
do futebol paulista rendem muitas críticas ao time. Mas poucos têm tanta
propriedade para comentar sobre a Ferroviária, sua história e sua situação
atual na série A2 do campeonato paulista quanto Wanderley Nonato, o Fogueira,
ex-lateral esquerdo e capitão do time de 1966, que liderou a campanha rumo à
primeira divisão do Campeonato Paulista.
Aquele que suava a camisa em campo, agora vai sempre ao
estádio e não perde a oportunidade de assistir aos jogos ao lado dos antigos amigos.
Tanta devoção está ligada a uma época em que foi muito feliz defendendo as
equipes do interior. Natural de São José do Rio Preto (SP), estreou pelo
América, se destacando entre os jogadores durante o torneio João Mendonça
Falcão, da 1ª Divisão, em 1962. Atuou como lateral-direito, zagueiro, volante,
mas se firmou mesmo na lateral-esquerda.
O jovem jogador chegou a ser sondado pelo Palmeiras, mas
acabou vindo para a Ferroviária em 1963, com apenas 20 anos, onde ficou oito
anos e participou de campeonatos que renderam queda e volta à Divisão Especial.
Durante estas temporadas, foi capitão e cobrador oficial de pênaltis.
Emprestado para o Corinthians, disputou nove partidas pelo
Timão. Depois, defendeu a camisa da Portuguesa por dois anos. Encerrou a
carreira inesperadamente, jogando pelo Comercial de Ribeirão Preto. Ele tinha
apenas 32 anos. “Num jogo contra a equipe de Bauru, estourei o joelho numa
jogada chamada ‘cama de gato’. O atacante entrou por baixo e eu caí de cabeça,
voltei o corpo e caí em cima do joelho. Esse jogador tinha sido mandado embora
do Comercial e estava meio bronqueado com o ex-clube. Nessa jogada maldosa, me
preparou essa. Mas hoje já esqueci, passou”, recorda.
Depois disso, Fogueira ficou por seis meses como técnico do
Comercial, mas decidiu deixar o futebol. Voltou para São José do Rio Preto,
onde o irmão já tinha uma ótica, e decidiu investir no mesmo segmento. Como a
esposa é natural de Araraquara, voltou para a Morada do Sol, onde montou sua
própria ótica e vive muito bem com família, garante. “Para mim, foi melhor,
porque fui cuidar da minha vida e, graças a Deus, cheguei a atingir meu
objetivo. Não me arrependo de nada”, confirma.
Mas ele não excluiu totalmente o futebol de sua vida. De
volta à Araraquara, fez parte de duas diretorias da Ferroviária e, por oito
anos, foi comentarista esportivo ao lado do radialista José Roberto Fernandes.
Hoje comemora o fato de poder ir ao estádio como torcedor e extravasar todo o
sentimento pelo time do coração.
HONRAR A CAMISA - Perguntado sobre o que o capitão de 1966
diria a respeito da atual equipe da Ferroviária, que luta para voltar à série especial,
Fogueira dispara: “eu diria o seguinte - honrar a camisa que está vestindo,
independente de qualquer coisa. Porque o bom profissional, quando entra em
campo, não quer saber se a chuteira não é aquela, se o pagamento está atrasado
e se o bicho vai ser x ou y. E união, porque eu fui capitão por cinco anos na
Ferroviária e eu cobrava dos meus amigos. O capitão tem que ser um jogador com
dignidade, força de vontade e mostrar que realmente tem capacidade, senão a
equipe é um barco sem rumo”, finaliza.
Palavra de capitão - “A solução seria a Ferroviária ter um Centro de Treinamento,
pois a cada dia treina em um lugar diferente. Tínhamos um estádio, hoje não
temos mais, não tem seu vestiário. Tinha até um campo de baixo, onde aconteciam
os treinamentos, não tem mais. Essa é a realidade”, avalia Fogueira.
Ele diz que se sente decepcionado em ver o time
do coração na segundona e garante que as equipes do interior, de um modo geral,
foram prejudicadas pela Lei Pelé, pois os jogadores deixaram de ser dos clubes
e passaram para as mãos dos empresários. “Não dá tempo de montar um time; a
cada três meses muda tudo. Antigamente, uma equipe jogava seis, sete anos junta
e existia conjunto. Hoje eles montam em cima da hora e não tem aquela técnica
necessária para estar em condições melhores. Estrutura significa ter jogadores
seus, que no ano seguinte possa contar, e ver o que está faltando e trazer para
preencher e formar um time base. A Ferroviária tinha um time base, que eram os
aspirantes, e quando vendia um jogador, o outro já entrava. O time não sentia,
porque já vinha naquele mesmo esquema de jogo e treinamento”, afirma.Publicado em 19 de fevereiro de 2013 pela edição nº 61 da Revista Kappa de Araraquara
Fotos: Mateus Rigola
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