A aproximadamente 5 quilômetros do centro da cidade, o
engenheiro mecânico Murilo Leonardi, 73 anos, guarda verdadeiras relíquias. Sua
coleção reúne 100 aviões, cerca de 15 veículos antigos e umas 300 motocicletas.
Detalhe: cada uma das peças remonta a uma parte da história mundial dos últimos
dois séculos, com raridades como um BMW de 1956; uma motocicleta de cinco
cilindros, com motor dentro da roda, que foi um modelo alemão usado como arma
secreta durante a 2ª Guerra Mundial; além de aviões antigos de acrobacias.
Leonardi é engenheiro mecânico e tem especialização em
engenharia aeronáutica. Foi professor da USP, engenheiro do Departamento de
Estradas e Rodagem (DER) e trabalhou no Centro Técnico da Aeronáutica (CTA). Ele
conta que desde criança era apaixonado por mecânica e tinha uma atração louca
por motocicletas, tanto que sua primeira, um modelo japonês de 1940, conquistou
aos 10 anos. Passou a colecionar motos, depois de formado. Antes, no período da
faculdade, tempo em que também dava aulas em Pirassununga e São Carlos, viajava
com uma moto de 1949, refrigerada a água, com transmissão por eixo cardano e
partida na mão. Ela está guardada no barracão como tantas outras.
Sua grande aquisição naquela época foi uma Ariel 500
cilindradas, com a qual pôde viajar pela região. Com o tempo, elas foram se
amontoando e hoje estão em três barracões. Murilo diz que todas funcionam,
apesar de parecerem abandonadas, basta apenas reparos ‘superficiais’. “Vai ter
que limpar, abrir o carburador, lixar o platinado, aquelas operações típicas”, detalha
o colecionador, que já viajou para diversos estados brasileiros em busca das
possantes, principalmente para a região Norte.
As que ele mais se utiliza, porém, estão em sua casa,
como a Zundapp de 1951, moto alemã que usa para andar pela cidade. Quando
resolve viajar, vai com a Traianf Especial de 950 cilindradas, ano 2001. “Eu
nunca tive a intenção de fazer nada com minha coleção. Tenho porque gosto.
Ultimamente, me fizeram algumas propostas, inclusive um pessoal da cidade quer
fazer um museu e levar estas motos para lá. São coisas que estou pensando ainda”,
diz.
GUINADA PARA
O ALTO – A paixão pelas motocicletas
o levou ao encontro a algo ainda mais veloz. Leonardi também gostava de viajar
para outras cidades para ver shows de acrobacia de aviões. Acabou tirando o
brevê em 1966 e passou a voar com aeromodelos de aeroclubes. No entanto,
segundo ele mesmo relata, em 1971, perdeu o gosto por tudo, quando, depois de
um ano apenas de casado, se separou da esposa. Foi quando o piloto de
acrobacias Alberto Bertelli, seu grande amigo, o aconselhou a comprar um avião,
um Ryan, modelo STAS. “Ele é de 1936 e era usado em treinamentos da 2ª Guerra
Mundial. Na China, eles adaptavam uma metralhadora com emenda nas asas. Mas é
um caça leve”, explica o piloto e colecionador. Daí em diante, a vida passou a
ser levada nas alturas. Ao lado do amigo
Bertelli, participou de muitos shows de acrobacia, sendo premiado algumas
vezes. “Viajamos para Rio Claro, Campinas, Sorocaba, Americana; fui a várias
cidades com esse avião. O Bertelli ia com um Biker, um biplano da mesma época. Eram
acrobacias simples, tulo, lupin, parafuso, nada igual às acrobacias mais
violentas de hoje”, compara.
Como não saia mais do aeroclube, passou a dar aulas de
instrução de voo. Mas, em 1978, perdeu o gosto de voar após a morte do amigo
Bertelli. Há cerca de 20 anos, resolveu montar seu próprio aeródromo, onde guarda
seus modelos e de seus amigos que também adquiriram aeronaves de pequeno porte .
E aos sábados, todos se reúnem para levantar voo. Hoje,
Leonardi pilota um Triaton, um monoplano projetado na Universidade de
Uberlândia por Claudio Pinto de Barros, falecido em 2012. “É um avião muito
bom, baseado em um avião italiano, com motor jabiru 120hp austríaco de seis
cilindros. Comporta duas pessoas”, diz.
Histórias de
aviador - Com tanto tempo envolvido com aviação, Murilo Leonardo
acabou colecionando também algumas lendas. Uma delas envolve sua primeira
aquisição; o Ryan. Segundo contam, o primeiro dono da aeronave, Anésio do
Amaral, que era campeão mundial de acrobacias, foi encontrado morto ao lado do
avião. Muitos acreditaram que ele tivesse cometido o suicídio. Passado um
tempo, a viúva vendeu o avião e, anos depois, o novo dono foi encontrado morto
da mesma forma. Então, a polícia descobriu que assim como o avião, o segundo
dono também havia assumido a amante do anterior. Ambos tiveram filhos com esta
mulher, que diziam ser belíssima. “Ela confessou que eles prometeram que
cuidariam dela e das crianças; como não cumpriram, ela acabou matando os dois.”
Publicado no dia 05 de março de 2013 pela edição de nº 62 da Revista Kappa de Araraquara
Fotos: Lucas Tannuri
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