terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Casos de diabetes tipo 1 têm aumentado em crianças


Estudo da Federação Internacional de Diabetes aponta para um rápido crescimento da diabetes tipo 1, especialmente entre crianças e adolescentes, algo em torno de 3%. Atualmente, 371 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de diabetes e cerca de 78 mil são menores de 15 anos. O estudo diz que 25% das crianças que desenvolvem o tipo 1 são diagnosticadas quando já se encontram em estado grave. Porém, a maioria dos casos é de diabetes tipo 2, provocada, principalmente, pela obesidade e por um estilo de vida desregrado. 
A nutricionista Rita de Cássia Garcia Pereira (CRN 3-5785), coordenadora da Clínica Integrada de Saúde da Uniara, que desenvolve um programa de prevenção e reeducação alimentar para pacientes da rede pública de saúde, quando a diabetes é diagnosticada, o paciente é encaminhado para tratamento específico. “Diabetes tipo 2 são os casos que mais vemos como problema de saúde pública e está relacionada ao estilo de vida, obesidade. Já a tipo 1, é uma doença autoimune e quem diagnostica e trata é o médico. Os pais devem saber que a obesidade e os hábitos inadequados são determinantes de vários problemas que podem se estender até a vida adulta. Doenças crônica- degenerativas tais como hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares são silenciosas e se estendem. Portanto, devemos trabalhar com prevenção”, defende ela.
Segundo os especialistas, a doença se manifesta quando o organismo não pode produzir ou utilizar de maneira eficiente a insulina, um hormônio que regula o nível de açúcar no sangue. O diabetes tipo 2 pode permanecer sem ser diagnosticado durante muito tempo, mas, no caso do tipo 1, se o paciente não recebe injeções de insulina diariamente para controlar seus níveis de glicose, corre risco de morte.
Entre os principais sintomas estão a necessidade frequente de urinar, sede abundante, cansaço extremo e uma perda inexplicável de peso. “Diabetes tipo 1 é diagnosticada quando não há produção insulina, geralmente com processo autoimune, e o organismo produz anticorpos que destroem uma parte do pâncreas. Isso não tem nada com genética”, diz o endocrinologista Welson Alves Ferreira Junior (CRMSP-51056), acrescentando que a insulina é o hormônio responsável por transportar o açúcar dos alimentos para dentro das células. Portanto, para diabetes tipo 1, o único tratamento é injeção de insulina.
Já o tipo 2 está ligado à hereditariedade. Com o envelhecimento, o pâncreas passa a diminuir sua produção de insulina e, para tratamento, a pessoa tem que se adequar a uma dieta com exercícios e até o uso de remédios. “O fator emocional, o estresse, liberam um hormônio chamado cortisol, que vai estimular a produção de adrenalina. Quanto mais estresse, mais adrenalina na circulação, que estimula a produção do cortisol, que é um hormônio que dificulta ação da insulina”, contextualiza o Dr. Welson.
Ele explica que a maior prevenção em ambos os casos é levar sempre uma vida saudável, com bons hábitos alimentares e exercícios físicos, sejam adultos ou crianças.

É possível conviver com o diabetes
Mariana de Souza Carmona, 7 anos, foi diagnosticada com a diabetes tipo 1 quando estava prestes a completar 2 anos. A mãe Estela de Sousa diz que tem histórico na família, mas acredita que a doença tenha cunho emocional, pois se desenvolveu um mês depois da morte de uma tia da menina. “Eu sofri muito com a perda da minha irmã e ela sentiu isso”, revela.
Estela conta que a experiência que já tinha com o avô e o irmão, ambos portadores de diabetes, permitiu que ela percebesse logo os sintomas na filha. “Prestei atenção que ela começou a fazer muito xixi e a bater a cabeça pelos cômodos da casa. Além disso, Mariana perdeu dois quilos muito rápido”, acrescenta. A mãe correu para o médico. “O pediatra se assustou com o resultado, foi o primeiro caso dele de diabetes. Sou muito agradecida ao Dr. Jairo, porque ele foi estudar a doença, buscou orientação para tratar a minha filha. Também a encaminhou para um endocrinologista, que a trata muito bem. Hoje nossa vida é controlada”, diz Estela.
E é mesmo. Tudo é cronometrado: as oito refeições diárias e os dez exames de destro. Mariana tem hora para comer e somente alimentos saudáveis. Fugir da rotina, muito raramente, isso com um brigadeiro ou um pedacinho de pizza, que a menina adora. “O fato de ter sido educada assim desde pequena ajuda muito. Ela não consegue comer mais que três brigadeiros em uma festinha. O problema maior é o cansaço com as brincadeiras, porque isso também altera as taxas hormonais. Mas aqui em casa, todo mundo virou diabético, todos entraram na dieta”, conta a mãe, que optou por ser franca com a filha e orientá-la. Tanto que Mariana sabe fazer o destro sozinha e também sabe calcular suas taxas glicose. “Como ela tem que comer nos horários certos, leva dois tipos de lanche para a escola. Então, faz o exame e sabe que lanche deve comer. Se por acaso, dentro da van, na volta para casa, fica meio zonza, ela faz o destro novamente e come o restinho do lanche. Tira de letra”, confirma. 
A menina nunca se aplicou a injeção de insulina, que deve ser feita todos os dias, mas diz que sabe o que fazer, caso a mãe faltar. Ela também conhece todos os seus horários e cardápios. “Tento orientá-la, porque cada exagero, são três dias de glicose alterada. Enquanto eu for responsável por ela, não vou deixar que nada saia dos trilhos e ela sabe disso.”
Para Mariana, que pretende ser veterinária um dia, a vida não é tão diferente assim. Até palpita no lanche dos colegas. “Eu não sei o que eles comem, mas o meu é mais gostoso”, afirma. E a doença da menina forçou a família a também buscar uma vida equilibrada e mais saudável. “Eu sou paulistana e sempre tive uma vida desregrada, sem hora para dormir, comendo fast-food. A Mariana me colocou freio. Hoje sou um relógio. Na minha bolsa nunca falta um lanche, uma bolacha de água e sal; dentro do destro, nunca falta saches de açúcar. Eu sempre digo que essa menina é um doce, já nasceu docinha para melhorar a nossa vida”, resume a mãe.

Publicado em 05 de fevereiro de 2013 na edição nº 60 da Revista Kappa
Fotos: Lucas Tannuri


Nenhum comentário:

Postar um comentário