Estudo da Federação Internacional de Diabetes aponta
para um rápido crescimento da diabetes tipo 1, especialmente entre crianças e
adolescentes, algo em torno de 3%. Atualmente, 371 milhões de pessoas em todo o
mundo sofrem de diabetes e cerca de 78 mil são menores de 15 anos. O estudo diz
que 25% das crianças que desenvolvem o tipo 1 são diagnosticadas quando já se
encontram em estado grave. Porém, a maioria dos casos é de diabetes tipo 2,
provocada, principalmente, pela obesidade e por um estilo de vida desregrado.
A
nutricionista Rita de Cássia Garcia Pereira (CRN
3-5785), coordenadora da Clínica Integrada de Saúde da Uniara, que desenvolve
um programa de prevenção e reeducação alimentar para pacientes da rede pública
de saúde, quando a diabetes é diagnosticada, o paciente é encaminhado para
tratamento específico. “Diabetes tipo 2 são os casos que mais vemos como
problema de saúde pública e está relacionada ao estilo de vida, obesidade. Já a
tipo 1, é uma doença autoimune e quem diagnostica e trata é o médico. Os pais devem saber que a obesidade e os hábitos inadequados são
determinantes de vários problemas que podem se estender até a vida adulta. Doenças
crônica- degenerativas tais como hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes,
obesidade e doenças cardiovasculares são silenciosas e se estendem. Portanto, devemos
trabalhar com prevenção”, defende ela.
Segundo
os especialistas, a doença se manifesta quando o organismo não pode produzir ou
utilizar de maneira eficiente a insulina, um hormônio que regula o nível de
açúcar no sangue. O diabetes tipo 2 pode permanecer sem ser diagnosticado
durante muito tempo, mas, no caso do tipo 1, se o paciente não recebe injeções
de insulina diariamente para controlar seus níveis de glicose, corre risco de
morte.
Entre os principais sintomas estão a necessidade
frequente de urinar, sede abundante, cansaço extremo e uma perda inexplicável
de peso. “Diabetes tipo 1 é diagnosticada quando não há produção insulina,
geralmente com processo autoimune, e o organismo produz anticorpos que destroem
uma parte do pâncreas. Isso não tem nada com genética”, diz o endocrinologista
Welson Alves Ferreira Junior (CRMSP-51056), acrescentando que a insulina é o
hormônio responsável por transportar o açúcar dos alimentos para dentro das
células. Portanto, para diabetes tipo 1, o único tratamento é injeção de
insulina.
Já o tipo 2 está ligado à hereditariedade. Com o
envelhecimento, o pâncreas passa a diminuir sua produção de insulina e, para
tratamento, a pessoa tem que se adequar a uma dieta com exercícios e até o uso
de remédios. “O fator emocional, o estresse, liberam um hormônio chamado
cortisol, que vai estimular a produção de adrenalina. Quanto mais estresse,
mais adrenalina na circulação, que estimula a produção do cortisol, que é um
hormônio que dificulta ação da insulina”, contextualiza o Dr. Welson.
Ele explica que a maior prevenção em ambos os
casos é levar sempre uma vida saudável, com bons hábitos alimentares e
exercícios físicos, sejam adultos ou crianças.
É possível
conviver com o diabetes
Mariana de Souza Carmona, 7 anos, foi diagnosticada
com a diabetes tipo 1 quando estava prestes a completar 2 anos. A mãe Estela de
Sousa diz que tem histórico na família, mas acredita que a doença tenha cunho
emocional, pois se desenvolveu um mês depois da morte de uma tia da menina. “Eu
sofri muito com a perda da minha irmã e ela sentiu isso”, revela.
Estela conta que a experiência que já tinha com o avô
e o irmão, ambos portadores de diabetes, permitiu que ela percebesse logo os
sintomas na filha. “Prestei atenção que ela começou a fazer muito xixi e a
bater a cabeça pelos cômodos da casa. Além disso, Mariana perdeu dois quilos
muito rápido”, acrescenta. A mãe correu para o médico. “O pediatra se assustou
com o resultado, foi o primeiro caso dele de diabetes. Sou muito agradecida ao
Dr. Jairo, porque ele foi estudar a doença, buscou orientação para tratar a
minha filha. Também a encaminhou para um endocrinologista, que a trata muito
bem. Hoje nossa vida é controlada”, diz Estela.
E é mesmo. Tudo é cronometrado: as oito refeições diárias
e os dez exames de destro. Mariana tem hora para comer e somente alimentos
saudáveis. Fugir da rotina, muito raramente, isso com um brigadeiro ou um
pedacinho de pizza, que a menina adora. “O fato de ter sido educada assim desde
pequena ajuda muito. Ela não consegue comer mais que três brigadeiros em uma
festinha. O problema maior é o cansaço com as brincadeiras, porque isso também
altera as taxas hormonais. Mas aqui em casa, todo mundo virou diabético, todos
entraram na dieta”, conta a mãe, que optou por ser franca com a filha e
orientá-la. Tanto que Mariana sabe fazer o destro sozinha e também sabe
calcular suas taxas glicose. “Como ela tem que comer nos horários certos, leva
dois tipos de lanche para a escola. Então, faz o exame e sabe que lanche deve
comer. Se por acaso, dentro da van, na volta para casa, fica meio zonza, ela
faz o destro novamente e come o restinho do lanche. Tira de letra”, confirma.
A menina nunca se aplicou a injeção de insulina, que
deve ser feita todos os dias, mas diz que sabe o que fazer, caso a mãe faltar.
Ela também conhece todos os seus horários e cardápios. “Tento orientá-la,
porque cada exagero, são três dias de glicose alterada. Enquanto eu for
responsável por ela, não vou deixar que nada saia dos trilhos e ela sabe disso.”
Para Mariana, que pretende ser veterinária um dia, a
vida não é tão diferente assim. Até palpita no lanche dos colegas. “Eu não sei
o que eles comem, mas o meu é mais gostoso”, afirma. E a doença da menina forçou
a família a também buscar uma vida equilibrada e mais saudável. “Eu sou
paulistana e sempre tive uma vida desregrada, sem hora para dormir, comendo
fast-food. A Mariana me colocou freio. Hoje sou um relógio. Na minha bolsa
nunca falta um lanche, uma bolacha de água e sal; dentro do destro, nunca falta
saches de açúcar. Eu sempre digo que essa menina é um doce, já nasceu docinha
para melhorar a nossa vida”, resume a mãe.
Publicado em 05 de fevereiro de 2013 na edição nº 60 da Revista Kappa
Fotos: Lucas Tannuri
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