terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

AAEE luta pela socialização de seus alunos


Idealizada pelo professor Francisco Borba, a Associação de Atendimento Educacional Especializado (AAEE) começou a sair do papel em 1991 com a união de um grupo de pais. Foi a partir da doação de um terreno no Jardim Aclimação, por parte da Prefeitura, que a escola foi fundada 8 anos depois e hoje é uma entidade filantrópica beneficente. Começou com 9 alunos, dentre eles Ana Luisa Borba de 38 anos, autista e filha do professor Borba. A entidade atende hoje 87 alunos das mais variadas idades, sendo que o mais novo tem 6 e o mais velho, 57 anos. São pessoas de Araraquara, Santa Lucia, Américo Brasiliense, Boa Esperança e Bueno de Andrada. E na lista de espera há atualmente 30 candidatos. 
A Associação atende, especificamente, alunos com deficiências intelectuais e múltiplas, que são associações de síndromes intelectuais com deficiências físicas. As principais são down, paralisia cerebral, autismo, síndrome de West, síndrome de Edwards, síndrome de Sturge-Weber, síndrome de Kabuki. “Temos distúrbios de aprendizagem, de leitura e escrita, de matemática, de linguagem, e com a avaliação da psicóloga, conseguimos direcioná-los”, explica a diretora pedagógica Maria Alice Palaçon.
Ela conta que a maioria dos alunos chega por meio de encaminhamentos médico ou terapêutico, já diagnosticados e passam por um processo de triagem que envolve a psicóloga e a assistente social. Elas identificam as necessidades específicas do aluno e encaminham para as atividades. Também acontece de chegar casos raros, como o de João Pedro Jatobá Afonso, 7, que tem síndrome de Kabuki, uma anomalia congênita bastante rara. No caso de garoto, a psicóloga Edilaine Helena Scabello diz que ele apresenta déficit de linguagem, mas alto nível intelectual.
O eixo de atendimento é clínico e pedagógico e desenvolvido por uma equipe com pedagogos, assistente social, psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, professor de educação física adaptada, professor de informática, educação física adaptada e monitores. Os alunos são divididos em duas turmas de meio período e recebem uma refeição. “No treino da alimentação, nós estimulamos a respiração, a mastigação, deglutição, além da experimentação de diversos tipos de alimentos, texturas e sabores como doce e salgado, amargo, azedo. Depois voltam para treinos de higiene pessoal, ir ao banheiro, escovar dentes. Tudo voltado para a independência deles, embora muitos nunca poderão ser totalmente independentes, mas nós temos que estimula-los mesmo assim”, diz Maria Alice. 
E o ambiente ajuda muito, pois a entidade possui ampla área verde, com muitas árvores frutíferas e animais soltos, como pavões, gansos, galinhas, coelhos. “Nem todos conseguimos alfabetizar, mas trabalhamos as habilidades motoras, que são a coordenação, a lateralidade, a espacialidade, para que se localizem no ambiente. Esse universo é trabalhado de diversas formas, através de atividades no papel, brincadeiras, jogos, eles exploram muito a região externa da escola”, diz a diretora.
A equipe multidisciplinar também faz um trabalho de esclarecimento com a família dos alunos, passando o desenvolvimento dos mesmos e as necessidades de cada um.

Estrutura e recursos – A associação passa por uma fase de ampliação da sua área clínica, com a centralização dos atendimentos em espaço anexo. Os alunos também irão receber sala de multimeios para cinema, de terapia ocupacional, de fonoaudiologia, psicologia, biblioteca, brinquedoteca e, futuramente, pensa-se em uma quadra poliesportiva coberta. Mas para isso serão necessários mais recursos financeiros, que são angariados com eventos e doações de parceiros. A entidade também conta com a parceria da Secretaria Estadual de Educação e Prefeitura, por meio de doação de bolsas de estudo. Hoje, eles têm um custo/mês de R$ 50 mil com a folha de pagamentos.

Interação social
Um dos principais objetivos é a interação social e para isso os alunos realizam muitos passeios dentro da cidade. Ir ao supermercado é um deles e está ligado às atividades pedagógicas. “É também uma forma da sociedade olhar diferente para os deficientes. Quando a escola veio para o bairro, as pessoas tinham receio de se aproximar. Hoje eles sorriem, cumprimentam, brincam. A comunidade participa bastante das festas, principalmente da festa junina”, afirma Maria Alice, acrescentando que toda semana tem sempre parceiros do bairro para as atividades dos alunos, em grande parte, comerciantes. Essa interação aumenta no Dia das Crianças, quando muitas pessoas se oferecem para ajudar na festa.

Publicado em 19 de fevereiro de 2013 na edição nº 61 da Revista Kappa de Araraquara
Fotos: Mateus Rigola

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