Idealizada pelo
professor Francisco Borba, a Associação de Atendimento Educacional
Especializado (AAEE) começou a sair do papel em 1991 com a união de um grupo de
pais. Foi a partir da doação de um terreno no Jardim Aclimação, por parte da
Prefeitura, que a escola foi fundada 8 anos depois e hoje é uma entidade
filantrópica beneficente. Começou com 9 alunos, dentre eles Ana Luisa Borba de
38 anos, autista e filha do professor Borba. A entidade atende hoje 87 alunos
das mais variadas idades, sendo que o mais novo tem 6 e o mais velho, 57 anos.
São pessoas de Araraquara, Santa Lucia, Américo Brasiliense, Boa Esperança e
Bueno de Andrada. E na lista de espera há atualmente 30 candidatos.
A Associação atende,
especificamente, alunos com deficiências intelectuais e múltiplas, que são
associações de síndromes intelectuais com deficiências físicas. As principais
são down, paralisia cerebral, autismo, síndrome de West, síndrome de Edwards,
síndrome de Sturge-Weber, síndrome de Kabuki. “Temos distúrbios de aprendizagem,
de leitura e escrita, de matemática, de linguagem, e com a avaliação da
psicóloga, conseguimos direcioná-los”, explica a diretora pedagógica Maria
Alice Palaçon.
Ela conta que a
maioria dos alunos chega por meio de encaminhamentos médico ou terapêutico, já
diagnosticados e passam por um processo de triagem que envolve a psicóloga e a
assistente social. Elas identificam as necessidades específicas do aluno e
encaminham para as atividades. Também acontece de chegar casos raros, como o de
João Pedro Jatobá Afonso, 7, que tem síndrome de Kabuki, uma anomalia congênita
bastante rara. No caso de garoto, a psicóloga Edilaine Helena Scabello diz que
ele apresenta déficit de linguagem, mas alto nível intelectual.
O eixo de atendimento
é clínico e pedagógico e desenvolvido por uma equipe com pedagogos, assistente
social, psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional,
professor de educação física adaptada, professor de informática, educação
física adaptada e monitores. Os alunos são divididos em duas turmas de meio
período e recebem uma refeição. “No treino da alimentação, nós estimulamos a
respiração, a mastigação, deglutição, além da experimentação de diversos tipos
de alimentos, texturas e sabores como doce e salgado, amargo, azedo. Depois
voltam para treinos de higiene pessoal, ir ao banheiro, escovar dentes. Tudo
voltado para a independência deles, embora muitos nunca poderão ser totalmente
independentes, mas nós temos que estimula-los mesmo assim”, diz Maria Alice.
E o ambiente ajuda
muito, pois a entidade possui ampla área verde, com muitas árvores frutíferas e
animais soltos, como pavões, gansos, galinhas, coelhos. “Nem todos conseguimos
alfabetizar, mas trabalhamos as habilidades motoras, que são a coordenação, a
lateralidade, a espacialidade, para que se localizem no ambiente. Esse universo
é trabalhado de diversas formas, através de atividades no papel, brincadeiras,
jogos, eles exploram muito a região externa da escola”, diz a diretora.
A equipe
multidisciplinar também faz um trabalho de esclarecimento com a família dos
alunos, passando o desenvolvimento dos mesmos e as necessidades de cada um.
Estrutura e recursos – A associação passa por uma fase de
ampliação da sua área clínica, com a centralização dos atendimentos em espaço
anexo. Os alunos também irão receber sala de multimeios para cinema, de terapia
ocupacional, de fonoaudiologia, psicologia, biblioteca, brinquedoteca e,
futuramente, pensa-se em uma quadra poliesportiva coberta. Mas para isso serão
necessários mais recursos financeiros, que são angariados com eventos e doações
de parceiros. A entidade também conta com a parceria da Secretaria Estadual de
Educação e Prefeitura, por meio de doação de bolsas de estudo. Hoje, eles têm
um custo/mês de R$ 50 mil com a folha de pagamentos.
Interação social
Um dos principais
objetivos é a interação social e para isso os alunos realizam muitos passeios
dentro da cidade. Ir ao supermercado é um deles e está ligado às atividades
pedagógicas. “É também uma forma da sociedade olhar diferente para os
deficientes. Quando a escola veio para o bairro, as pessoas tinham receio de se
aproximar. Hoje eles sorriem, cumprimentam, brincam. A comunidade participa
bastante das festas, principalmente da festa junina”, afirma Maria Alice, acrescentando
que toda semana tem sempre parceiros do bairro para as atividades dos alunos,
em grande parte, comerciantes. Essa interação aumenta no Dia das Crianças,
quando muitas pessoas se oferecem para ajudar na festa.
Publicado em 19 de fevereiro de 2013 na edição nº 61 da Revista Kappa de Araraquara
Fotos: Mateus Rigola
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