Matão pode se considerar
hoje uma potência industrial com números que fazem o diferencial no mercado
brasileiro. Seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita é de R$ 66.315, sendo
que a média do estado de São Paulo, segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas (IBGE), é de R$ 22.202.
Hoje, a cidade possui 2.737 empresas, ocupando
27.697 pessoas assalariadas, com remuneração média de 2,8 salários mínimos. O
nível de emprego industrial no mês de maio deste ano apresentou resultados
positivos com variação de 1,36%, significando um acréscimo de 150 postos de
trabalho. No entanto, nos últimos 12 meses, apresentou um acumulado de -1,16%,
representando a perda de 100 postos de trabalho.
A melhora do índice
no mês de maio, segundo a Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp),
foi influenciada pela variação positiva dos setores de produtos alimentícios
(5,14%), metal, exceto máquinas e equipamentos (3,68%), e máquinas, aparelhos e
materiais elétricos (0,53%). “Todos os anos há essa sazonalidade de empregos na
indústria alimentícia, pois nos períodos de entressafra, se contrata e depois
se demite. Porém, estes trabalhadores que deixaram as lavouras acabam sendo
absorvidos por outros setores fortes na cidade, como o caso da construção
civil”, justifica o diretor do Ciesp, Roberto Cadioli. Ele lembra que 70% do
PIB da cidade vêm da indústria, sendo os 30% restantes da área de serviços.
A história da
indústria de Matão justifica toda essa capacidade. Ela também se confunde com a
história da indústria no País, pois foram impulsionadas no final do século
XVIII e começo do XIX, com a vinda de imigrantes europeus, em sua maioria
italianos, que fugiam da 1ª Guerra Mundial. Com o fim do trabalho escravo, as
lavouras de café, laranja e cana precisavam de mão de obra. Muitas destas
famílias chegadas ao país latino-americano trabalharam duro nas lavouras,
visando o progresso prometido. Foi assim que grande parte destas famílias,
cansadas do trabalho exaustivo nas lavouras, começou a se organizar na montagem
de seus próprios negócios. Consequentemente, começaram a surgir as primeiras
fábricas e oficinas de produção e conserto de maquinários e implementos
agrícolas.
Desde aquela época,
Matão já apresentava uma produção bastante diversificada de produtos, tendo o
café, a cana e a laranja como carros-chefe. Mas merecem destaque também o
cultivo do milho, limão, tangerina, manga, amendoim, algodão, e tantas outras
culturas, além da produção animal. O grande diferencial de Matão, porém, não
foram simplesmente suas empresas familiares, que se desenvolveram com grande
facilidade e muito trabalho, mas também a sua vocação industrial, pois muitas
empresas foram e são abertas até hoje por pessoas que trabalharam em indústrias
maiores por muitos anos. A perspectiva de enxergar uma brecha no mercado e
produzir peças para um setor cada vez mais forte parece arraigada na
mentalidade dos matonenses.
PIONEIROS - Revirando os livros de história da cidade,
podemos constatar a chegada dos irmãos Bambozzi para Matão em 1925, e a família
Baldan também no mesmo ano. Em 1946, os Marchesan fundaram a Oficina Brasil e,
no mesmo ano, Luiz Faggioni abriu a fábrica de facas Cruzeiro. “Também a
fábrica de facas do Ivo e do Rômulo, em sociedade com o Dumas e o Bento, e os
Cadioli, e os Mariani, e os Trolezi, e os Frigieri; os Martins com o curtume,
os Pinotti com a WPP, os Modé, os Monazzi, os Mossocato e até a fábrica de óleos,
lá em Toriba. Depois vieram A Elite, a EMMES, a Troféu, a Tangran, a Rede, a
Tuca...”, como conta o livro Uma História para Matão, de Azor Silveira.
E até o final da
década de 1950, a fabricação de implementos agrícolas era o grande forte da
cidade. Esse cenário passa a mudar nas décadas seguintes, quando a cidade
atinge um período de grande desenvolvimento industrial, com o surgimento de
indústrias no ramo de confecções, artigos esportivos, gêneros alimentícios,
tintas residenciais e industriais, peças automotivas e muitos outros. A
consequência dessa diversidade é que hoje Matão tem sua vocação industrial como
fortaleza.
Família Bambozzi - Basilio e Ferdinando Bambozzi vieram para o Brasil
de Ózimo, província de Ancona na Itália, com seus pais e mais duas irmãs no ano
de 1898. Moraram em Analândia, Do brada e em seguida vieram para Matão, onde
compraram um sítio de 10 alqueires. Em 1910, abriram a primeira oficina de
conserto de carroças, carroções e equipamentos agrícolas às margens da Estrada
Boiadeira.
Em 1920 fundaram a
Aparelhos Elétricos Bambozzi Ltda. Trinta e cinco anos depois abriram a
Bambozzi Máquinas Hidráulicas e Elétricas, que produzia grupo de geradores de
solda, máquinas para soldas elétricas, alternadores, motores elétricos,
tambores e uma infinidade de produtos. Hoje, a marca se trata de uma
multinacional, exportando seus produtos para o mundo inteiro.
Família Baldan - Também da Itália, província de Veneza, vieram para
o Brasil os irmãos Carillo e Narciso Baldan, no ano de 1925. Trabalharam por 90
dias na cidade de Guariba e depois se separaram, indo um para Lins e o outro
para Bebedouro. Não tardou muito e os irmãos voltaram a se reunir em Matão,
onde implantaram a primeira oficina, ainda na garagem de sua casa, na Av.
Tiradentes, no ano de 1928. Eram responsáveis por carpintaria, serraria,
ferramentaria, fabricação e conserto de carroças, arados, charretes,
carrocerias para caminhão, carretões de tração animal, pontes e tonéis para
aguardente. Trabalharam duro, prosperaram. Em 1976, inauguraram as novas
instalações da empresa em uma área de 220 metros quadrados. Hoje, a empresa
conta com um parque industrial com 256 mil m² e oferece ao mercado cerca de 200
produtos.
Família Marchesan - João Marchesan veio da Itália para o Brasil em
1895. Trabalhou na construção de uma estrada que liga Jaboticabal a Porto Taboado;
depois em uma olaria em Américo Brasiliense, além de passar pelas cidades de
Valinhos e Campinas. Em 1897 veio para Silvânia formar cinco mil pés de café,
na fazenda Lagoa Seca. Constituiu família. Em 1912, ele monta uma cervejaria em
Matão, que teve de ser fechada com o início da 1ª Guerra Mundial na Europa,
devido à proibição de importação de cevada. Então ele empreende em outros
ramos, como armazéns de secos e molhados, venda de combustível, beneficiamento
de arroz e café. Em 1946, seus netos Armando e Luiz resolvem iniciar seu
próprio negócio e abrem a Oficina Brasil, no Centro de Matão e que, anos mais
tarde viria a se tornar a Marchesan Implementos Agrícolas. No início, eles
fabricavam charretes e carrinhos de molas. Hoje ela é uma das maiores empresas
de implementos agrícolas da América Latina.
Cadioli - Beniamino Cadioli chegou ao Brasil na década de
1920, vindo da Itália direto para Matão, juntamente com a mulher Melide e os
dois filhos Aldo e Ágide. Beniamino chegou a montar uma ferraria no fundo da
oficina de Gino Tórchio, mas não deu certo. Resolveu trabalhar na indústria
metalúrgica da cidade e nas horas vagas fazia bicos. Tempos depois, abriu seu
próprio negócio que deu certo e teve continuidade com os filhos e seus
descendentes. Em 1967 a empresa fez a primeira cavadeira universal. Hoje, a
Cadioli possui fábrica em área de 6 mil m² e 80 colaboradores que trabalham
para atender 3 mil clientes em todo o mundo.
Citrosuco - Em 1963, Matão foi a cidade escolhida por um grupo
de três empresários americanos para a implantação de uma indústria de suco
concentrado de laranja. Glynn Davies, Carl Fisher e Ludwig Eckes fundaram a
Citrosuco em março de 1964. No ano seguinte, moeu 1,8 milhão de caixas de
laranja, produção que já alcançava diversos países do mundo. Quatorze anos
depois, em 1979, foi responsável por 41% das exportações brasileiras, tendo
moído 41 milhões de caixas de laranja. Em 1986, a empresa entrou na produção de
álcool hidratado, atingindo a marca de 120 mil litros por dia. Atualmente o
grupo possui quatro fábricas no Brasil e uma nos Estados Unidos e é responsável
indireto por mais de 30 mil empregos.
EMMES - A princípio pode não parecer lógico, mas para quem
conhece a história sabe que o nome da fábrica criada em 1979, a EMMES, diz respeito
aos nomes de seus fundadores: Malzoni e Monazzi. A ideia de abrir uma fábrica
de calções esportivos surgiu de uma conversa entre Carlos Fernando Malzoni,
José Luiz Monazzi e seu tio Geraldo Monazzi. Ela foi impulsionada pelo destaque
que passou a ter o futebol naquele momento que o país vivia e a pouca oferta de
produtos esportivos. A fábrica foi aberta e administrada por sete integrantes
das duas famílias e o trabalho deu tão certo que em nove meses tiveram de
mudar-se para um lugar com maior espaço. O que no início era feito por apenas
dez funcionárias teve uma expansão enorme para 850 pessoas trabalhando na
confecção e desenvolvimento de novos produtos. Atualmente, a fábrica está
instalada em terreno de 5 mil m² e tem capacidade de produção de 300 mil peças
por mês.
(Fontes: “Uma
História para Matão”, de Azor Silveira; escritor José Carlos Marcolino daSilva; bambozzi.com.br; baldan.com.br; marchesan.com.br; citrosuco.com.br;emmes.com.br; cadioli.com.br)
Publicado no dia 02 de julho de 2012 pela revista
Kappa Matão, ano 1, Edição 6, n6 - http://www.portalk3.com.br/Artigo/regiao/uma-cidade-com-vocacao-industrial
Nenhum comentário:
Postar um comentário